Leitura do Fim do Mundo IV


Estivemos conversando com alguns escritores, críticos, jornalistas e professores a respeito de um tema bastante citado ultimamente: o fim do mundo, que acontece no dia 21 de dezembro de 2012 - mais conhecido como hoje. E, aproveitando os últimos instantes de existência - tanto virtual quanto real -, perguntamos para cada um deles qual seria sua última leitura (ou releitura) antes que o mundo acabe.

Para esse quarto post da sessão Leitura do Fim do Mundo, convidamos o fotógrafo Ricardo "Kadão" Chaves, o poeta Ronald Augusto, a professora Márcia Ivana de Lima e Silva, o jornalista Juarez Fonseca e editor Rodrigo Rosp:




Ricardo "Kadão" Chaves

Tudo indica que já não estarei no município, mas, se desse tempo, gostaria de ler a manchete do Bairrista (ou da Zero Hora, o que é parecido) fechada na noite anterior durante a hecatombe.







Ronald Augusto

Minha última leitura, para passar a régua nessa porra toda, seria o poema Preparação para a morte, do Manuel bandeira:

A vida é um milagre.
Cada flor,
Com sua forma, sua cor, seu aroma,
Cada flor é um milagre.
Cada pássaro,
Com sua plumagem, seu vôo, seu canto,
Cada pássaro é um milagre.
O espaço, infinito,
O espaço é um milagre.
A memória é um milagre.
A consciência é um milagre.
Tudo é milagre.
Tudo, menos a morte.
– Bendita a morte, que é o fim de todos os milagres.






Márcia Ivana de Lima e Silva

Eu releria O Cavaleiro Inexistente, de Italo Calvino, principalmente o belo capítulo em que o leitor descobre quem está narrando a história do cavaleiro que habita uma armadura vazia, sem nunca duvidar que existe, em oposição ao escudeiro humano que questiona sua própria existência. Como acredito que o mundo não vai acabar, fica a dica de leitura ou de releitura para as férias.







Claudio Levitan

A minha leitura nesses momentos derradeiros: O senhor da foice, de Terry Pratchett.









Rodrigo Rosp

Se eu soubesse que o mundo iria acabar e eu ainda tivesse direito a uma última leitura, escolheria Guerra e paz, pois com isso ganharia mais uns dois meses (no mínimo) antes do apocalipse. Ou então Hamlet, pois a resposta para "ser ou não ser?" não seria nem um pouco complicada.







Juarez Fonseca


Se eu acreditasse, de verdade, que haveria um último dia, mesmo sendo agnóstico (não tenho suficiente coragem para ser ateu), leria a Bíblia. Tenho duas. Uma delas, herdada de meus sogros, é luxuosa edição da Barsa/Catholic Press, 1964, mais de mil páginas, capa em couro, visualização externa do volume em dourado, com o Antigo Testamento e o Novo Testamento, mais uma introdução que, entre outras coisas, nos informa sobre as indulgências que se ganham pela leitura da Bíblia, e ao final, um dicionário prático de quase 300 páginas, de "Aarão" a "Zwinglianismo". Por que a Bíblia? Primeiro, porque é o livro mais antigo da civilização. Segundo, porque nunca a li inteira. E terceiro, porque nela está narrado o primeiro fim do mundo, o do Dilúvio, de Noé e sua arca, que se salvaram - vai que eu, minha família e meus amigos consigamos lugar em alguma nave em direção ao segundo recomeço? Mas como não acredito na hipótese do fim atribuída aos maias (que muitos estudiosos dos maias rejeitam), acho que por estas bandas do Sul uma boa despedida poderia ter Simões Lopes Neto lido ao pé de um fogo de chão, com suave trilha-sonora da gaita de Gilberto Monteiro.


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