Presença Cubana na Feira do Livro: Virgilio López Lemus
A tarde pintou-se gris ameaçando chuva, mas nem uma cousa nem
outra fez com que a movimentação do dia da presença cubana em Porto Alegre fosse escassa. Um pouco antes das 16h um público em pompa já aguardava ansioso
pelo escritor na sala dos jacarandás.
Com um
sorriso nos olhos, Virgilio saudou o público da 58° Feira do Livro de Porto Alegre, anunciando
estar muito contente com esse intercâmbio tão frutífero e cultural que está nascendo entre o Rio Grande do Sul e Cuba. “O Brasil é uma ilha linguística dentro do continente. É uma grande
alegria para mim estar aqui hoje”.
José Eduardo Degrazia |
Para agregar "candela" à mesa, juntamente a Virgilio, fez-se
presente o escritor porto-alegrense José Eduardo Degrazia que recebeu e apresentou o
escritor ao público. José ressalta “Estamos passando por um momento
muito importante, um momento de estreitar laços literários entre os dois
países”.
Virgilio é pesquisador da obra de Gabriel García Márquez e tem mais de 30 livros publicados. Hoje está
trabalhando em dois livros de poesia que tem previsto publicação em breve.
Fazendo um decorrido dos movimentos da poesia cubana, Virgilio
fala sobre algumas diferenças entre a poesia dos dois países - “Nossa poesia é diferente da brasileira. A começar pelo modernismo,
enquanto os seus escritores bebiam das vanguardas, nosso grande símbolo do
modernismo era Martí [José Martí] com uma poesia mais intimista”, continua, “Por volta de 1924 a poesia cubana se restringe a uma poesia intimista, neo-romântica”. O escritor comentou que o mais forte da literatura cubana é, sem dúvida, a poesia popular. “A poesia popular é riquíssima dentro da formação da nossa história e literatura. O que conhecemos por poesia cantada é a maior produção entre todas as outras – há um movimento crescente dentro dessa linha”, pontuou.
“Nossa produção poética é muito vasta, não se restringe ao território nacional. Existem muitos poetas fora do país que produziram grande parte de sua obra no exterior. Em suma posso dizer que a poesia é, com certeza, nosso maior gênero literário”.
"A poesia contemporânea se preocupa apenas com o ego.
O que é muito complexo, pois tem a ver com a circustância
e as transformações que hoje o país está vivendo", afirmou.
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“Essa relação que cultivamos com a literatura é algo que devemos à revolução. Existem várias coisas que eu gostaria que mudassem no meu país, a cultura, com certeza, está fora delas”.
SOBRE A INDÚSTRIA LITERÁRIA
Virgilio conta que a indústria literária é muito grande, porém rústica - “Os livros não têm muito adorno, a estética não importa. O prioritário é
que os livros sejam acessíveis a toda população”. E os livros são! Quando o escritor comenta que o livro mais caro em Cuba custa um dolár, o que equivale a 30 pesos cubanos, deixa o público de boca aberta e com um pouco de inveja. “Os cubanos em geral possuem grandes bibliotecas em suas
casas. O hábito da leitura é algo muito comum, e a acessibilidade à aquisição dos livros com certeza ajuda nesse processo”.
Ele ainda comenta, “Em quase todos os países de economia capitalista o livro é algo muito caro. Eu, por exemplo, quando estou fora de Cuba, só vejo as livrarias pela vitrine”.
O escritor conta que cada província de Cuba tem uma editora, e que a escrita é algo tão popular entre os jovens, que alguns deles chegam a ter sete, oito livros publicados. “Cuba é conhecida mundo afora pela grande produção de açúcar... Mas mal sabem as pessoas que embaixo de cada planta de cana trabalham cinco poetas. Cuba, antes de qualquer coisa, é um país de poetas.”
Fotos: Jessica Dachs |
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