Prêmio Açorianos: entreilha
O livro entreilha (Editora UFSC, 2011) é finalista do Prêmio Açorianos de Literatura 2012 na categoria Narrativa Longa. O livro do autor gaúcho Rafael Reginato concorre com Marcel Citro, com Outonos de Fogo, e Leticia Wierzchowski, com o livro Neptuno. A história, apresentada como realismo virtual, gira em torno de uma narrativa circular de um tempo não linear, corrompido, de uma ação repleta de digressões, de idas e vindas.
O enredo se estabelece ao contar a história de um grupo de jovens desocupados
que se conhecem pela internet e decidem assaltar um banco. Trocam suas
identidades, traçam um plano de assalto e, por
fim, executam-no. A trama tenciona o real x imaginário, ou virtual, que se entrecruzam e não encontram respostas, isso se intensifica com a constante indagação sobre o sentido dos atos e da vida. Há uma densidade na história que foge aos relatos policiais comuns. Ou seja, o texto, ao passo que dialoga com o romance policial, também flerta com a narrativa contemporânea do texto fragmentado.
O personagem principal se autodenomina “eu” e também é o narrador da história. Os capítulos (títulos) iniciam com letras minúsculas e terminam com a mesma palavra que iniciou, como se a narrativa girasse ao mesmo ponto, como se as vidas girassem ao mesmo ponto, além disso, o livro não tem um início e um fim, não há marcações formais para isso. Inicia com letra minúscula e termina sem ponto final, onde o que importa é o meio, atando assim suas duas pontas (começo e fim), fechando-se em si mesma, como se fosse, ao mesmo tempo, infinita, aberta.
Rafael Reginato é gaúcho natural de Porto Alegre, mora atualmente na Ilha de Santa Catarina, lugar de inspiração de sua ficção literária. Comunidacor, Rafael sempre foi muito próximo das letras. É contista, cronista e agora, também, romancista.
Confira um trecho de entreilha abaixo:
Não chovia pela manhã quando meses atrás resolvi, para exercitar a saúde, caminhar sozinho numa das tantas trilhas desta ilha, é sempre admirável o contato com palmeiras verdes, avencas verdes, amendoeiras verdes, samambaias verdes, bromélias verdes, para onde rotineiramente eu me voltava a fim de contemplar o descolorido de que é feita a natureza primária do mundo, ignorando as borboletas de asas rajadas, verdes azuis e amarelas a cruzarem o caminho de terra por onde eu seguia, elas não faziam parte daquela visão natural justamente por não medirem esforços em voar de um lado a outro sem ter onde chegar, agora estão ali, daqui a pouco já não estarão, somente o verde ancestral permanece.
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