Auta de Souza: uma poeta do Mal do Século

Há 136 anos, em  Macaíba - Rio Grande do Norte, no dia 12 de setembro, nasceu Auta de Souza, poetisa da segunda geração romântica que, após o seu falecimento, recebeu a poltrona XX da Academia Norte-Rio-grandense de Letras como forma de reconhecimento a sua obra. 

Ainda em vida, apesar de muito jovem, escreveu para revistas e jornais e, com isso, quebrou a hegemonia masculina dos círculos literários da época (compostos em sua maioria por figuras masculinas e críticos que ignoravam as escritoras mulheres). No entanto, num momento entre 1899 e 1900, Auta de Souza chegou a assinar seus poemas com os pseudônimos de Hilário das Neves e Ida Salúcio (assim como outros escritores da época). 

A poeta publicou apenas um livro, intitulado Horto, cujo prefácio foi escrito por Olavo Bilac. Com influência simbolista, a obra de Auta de Souza possui basicamente cinco fatores marcantes: a religiosidade, a orfandade, a morte trágica de seu irmão mais novo, a tuberculose diagnosticada aos seus (apenas) 14 anos e a frustração amorosa que vivenciou em detrimento da separação de seu namorado, João Leopoldo da Silva Loureiro

O poema Ao Pé do Túmulo, o qual você pode conferir abaixo, ilustra a religiosidade e a presença da doença que perturbava a poetisa. Um trecho desse poema foi usado, mais tarde, para prestar homenagem a sua autora, constituindo o epitáfio de sua lápide. 


Ao Pé do Túmulo 

Eis o descanso eterno, o doce abrigo
Das almas tristes e despedaçadas;
Eis o repouso, enfim; e o sono amigo
Já vem cerrar-me as pálpebras cansadas.

Amarguras da terra! eu me desligo
Para sempre de vós... Almas amadas
Que soluças por mim, eu vos bendigo,
Ó almas de minh’alma abençoadas.

Quando eu d’aqui me for, anjos da guarda,
Quando vier a morte que não tarda
Roubar-me a vida para nunca mais...

Em pranto escrevam sobre a minha lousa:
"Longe da mágoa, enfim, no céu repousa
Quem sofreu muito e quem amou demais".

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