Livro também é estilo

 O livro é um dos objetos mais antigos que nos acompanha. Sua história tem aproximadamente seis mil anos de vida. Das tábuas com cera, a papiros, placas de barro e folhas de palmeira, a ideia desse artifício de leitura já estava se mostrava presente. O papel, como conhecemos, surgiu com os chineses. Os mesmos responsáveis por outras descobertas de grande peso, como a pólvora e a massa. Enquanto na China, no século II, já se fabricava um primitivo tipo de papel, no século XII ele estava recém engatinhando para chegar definitivamente no Ocidente.

Em 1150, após a invasão árabe da Península Ibérica, na Espanha foi criada a primeira fábrica desse material. Já na Idade Média, o papel transformou-se em um importante utensílio de registro, negócios e divulgação literária. Porém, foi no ano de 1428, na cidade de Estrasburgo na Alemanha, que Johann Gutenberg fez os primeiros testes de impressão com caracteres móveis, os tipos, criando assim a tipografia. Em 1442, o primeiro livro foi elaborado por uma prensa, tratava-se da conhecida Bíblia de 42 linhas. Após isso, o europeu abriu, ao lado de Johann Fust, a Fábrica de Livros.

Desde que existe o livro, também existe o design desse. Durante todo o período de tempo citado acima até os dias de hoje, sempre existiu a organização do conteúdo, a escolha da melhor forma de apresentá-lo ao leitor, de tornar seu passatempo mais agradável. Na Bíblia citada no parágrafo anterior, por exemplo, há uma preferência por dispor os textos em duas colunas, de escolher o tamanho apropriado da publicação (31 cm [largura] x 43 cm [altura]), usar duas cores, utilizar a capitular, dentre outros elementos. Existia ali uma tentativa de conduzir os olhares do leitor e ajudar na absorção do texto e significado dele.

É perceptível o quanto o design editorial acompanha e cultiva características de sua época determinada, sendo um reflexo dela e nela influindo. Ao observar novamente a Bíblia de Gutenberg é possível ver que as letras góticas foram os caracteres escolhidos para compor o texto. Nesse mesmo período, mais especificamente, desde o século XII até o fim da Renascença Italiana, vigorava um tipo de pensamento social e estético que acabou por influenciar a arte, especialmente a arquitetura, escultura e a pintura. Esse pensamento era sustentado pelo estilo gótico, o mesmo que acabou por influenciar a forma da escrita.

Além de um livro estar submerso no pensamento de seu tempo, suas escolhas estéticas também estão. Abaixo, selecionamos alguns títulos da nossa literatura com edições diferentes, que demonstram bem as mudanças feitas ao longo das décadas.

Antologia Poética, 
Vinicius de Moraes (1ª Edição, 1949)
 








 Antologia Poética,  
Vinicius de Moraes (2009)





As meninas, 
Lygia Fagundes Telles 
(1ª Edição, 1952)





                     As meninas, 
 Lygia Fagundes
Telles (2009)





 




A maça no escuro, 
 Clarice Lispector
(1ª Edição, 1961)

   

A maça no escuro,
Clarice Lispector ( 2010) 






 Primeiras Estórias,  
João Guimarães Rosa (1ª Edição, 1962)

  


Primeiras Estórias, 
 João Guimarães Rosa (15ª Edição, 2011) 






A Educação pela pedra,
João Cabral 
de Melo Neto 
(1ª Edição, 1966) 







A Educação pela pedra,  
João Cabral 
de Melo Neto (2008)

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