Augusto Meyer

Augusto Meyer (pseudônimo Guido Leal) forma ao lado dos poetas Raul Bopp, Mario Quintana, entre outros, o modernismo gaúcho. Sua obra é marcada por referências biográficas, lembranças da infância, e também, pelo regionalismo, que sempre foi presente em suas atividades. Além de escritor, Meyer foi jornalista, ensaísta, memoralista e foclorista. Foi membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Filologia.

Filho de imigrantes alemães, nasceu em 1902, em Porto Alegre, e faleceu em 1970, na cidade do Rio de Janeiro. Estudou em sua cidade natal e mais tarde abandonou os cursos regulares para estudar línguas e literatura. Colaborou com poemas e textos diversos em diversas publicações, como nos jornais Diário de Notícias, O Exemplo e Correio do Povo. Também criou e editou sua própria publicação, a revista modernista A Madrugada, em 1926.

No ano de 1920, lançou sua primeira obra, o livro de poesias chamado A ilusão querida. Mais tarde, escreveria outras publicações, com as quais ficaria mais conhecido como os livros Coração verde, Giraluz e Poemas de Bilu. Meyer também ocupou cargos em atividades importantes para o incentivo literário. Foi diretor da Biblioteca Pública do Estado, em Porto Alegre, e em 1937, convidado por Getúlio Vargas, mudou-se para o Rio de Janeiro onde organizou o Instituto Nacional do Livro. Foi presidente dessa instituição durante 30 anos. Em 1947, o poeta recebeu o Prêmio Filipe de Oliveira na categoria Memórias e, em 1950, o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras pelo conjunto da obra literária. O escritor era muito fã do escritor brasileiro cujo nome foi dado para o último prêmio. Em 1935, lançou um ensaio crítico sobre o autor, sendo tachado de revolucionário, já que colaborou e muito com ideias novas para a compreensão da obra de Machado. Meyer também dirigiu a cadeira de Estudos Brasileiros na Universidade de Hamburgo, Alemanha, e foi adido cultural do Brasil na Espanha. Traduziu autores para o português e colaborou com a difusão deles no País.

Meyer possuía uma visão crítica em relação ao modernismo paulista. De heranças bem distintas, enquanto que o movimento que ocorria no estado cafeeiro era filho de um linhagem simbolista, no sul era diferente. Por isso, a poesia de Meyer não era tão violenta, ousada digamos, como a de seus contemporâneos. Subjetiva, descreve a modernidade e suas impressões como faz um pintor, porém, não com tanto entusiasmo quanto seus conhecidos. Meyer pertencia a uma atmosfera de campanha, tropeira, louvava o ambiente rural. Pouco de sua obra é dedicada a temática urbana, sendo a querência, o objeto mais agraciado em suas letras. Ao mesmo tempo, o poeta buscava modernizar sua poesia, libertá-la dos velhos padrões, porém, sem ignorar seu assunto predileto (já que era de seu interesse contribuir para a poética nacional de uma forma geral).

Hoje Meyer tem uma relevância única. Escreveu mais de 23 livros, sendo nove desses de poesia. Seu nome faz parte da história das instituições de cultura não só de raiz literária. Foi uma ponte importante entre o Estado e o restante do País, principalmente pensando-se em vanguardas, dedicando seu tempo e escrita para a inovação e o avaço. Abaixo, dois poemas do autor que demonstra bem períodos diferentes de sua composição.

Greve

Eu não tinha mais palavras,
Vida minha,
Palavras de bem-querer;
Eu tinha um campo de mágoas,
Vida minha,
Para colher.

Eu era uma sombra longa,
Vida minha,
Sem cantigas de embalar;
Tu passavas, tu sorrias,
Vida minha,
Sem me olhar.

Vida minha, tem pena,
Tem pena da minha vida!
Eu bem sei que vou passando
Como a tua sombra longa;
Eu bem sei que vou sonhar
Sem colher a tua vida,
Vida minha,
Sem ter mãos para acenar,
Eu bem sei que vais levando
Toda, toda a minha vida,
Vida minha, e o meu orgulho
Não tem voz para chamar.

Canção Encrencada 

Eu sou o filóis Bilu,
Malabarista metafísico,
Grão tapeador parabólico.

Sofro de uma simbolite
Que me estraga as evidências.
Quem pensa pensa que pensa,
O besouro também ronca,
Vai-se ver...não é ninguém.

Reduzo tudo a mim-mesmo,
Não há nada que me resista:
Pois o caminho mais curto
Entre dois pontos, meu bem,
Se chama ponto de vista.

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