Retrospectiva: 1997
Vencedor na categoria poesia: Os cantares da semente, de Maria Carpi

Em Os Cantares da Semente (1996), quarto livro da poeta, sua sensibilidade continua cada vez mais aguçada. A obra, dividida em VI cantos, é composta de poemas longos e curtos, asseguradores de ritmo e melodia. Maria tende a dedicar-se a erguer diálogos com seus leitores, em um tom de conversa sustentado por uma linguagem fresca e coloquial, demonstrando como a ligação com o outro é importante. A semente é a figura principal do livro. A partir desse signo de vida que Maria sustenta seus versos. O escritor Luiz Antônio Assis Brasil faz uma boa leitura sobre essa escolha. “Semente em nós como o abstrato da Humanidade, que nos irmana todos e nos faz andarilhos, sujeito às quedas. Mas sempre a semente a aparar-nos”, reflete.
Assim como a natureza necessita da existência da coisa semente, o poema também. É esse catalisador que Maria investiga, ao mesmo tempo em que procura provas da poesia na vida e vice-versa. No poema que selecionamos, que faz parte da obra aqui comentada, encontramos um fator que se faz bastante presente no livro. A humanização da natureza e o uso de especificidades do mundo animal, vegetal e mineral para descrever um sentir humano.
SEMENTE EM MIM
Um bafo de sazão fugada,
de madureza deixada
e esmo, põe temperança
comigo, em igualdade
de pele, porque olhos
não me viram, nem mão
me colheram. As uvas
onde o tempo espuma.
Segundo o elogio de Thiago de Mello, poeta amazonense, “Todas as suas palavras unem-se umas as outras por atração mágica inexorável. Todas têm boca, densa música”. Maria é dona de precisão na escolha de seus elementos poéticos. Incessante em sua escrita, em 2011 lançou mais um livro, chamado A Chama Azul.
Mais sobre a autora:
Maria Carpi (Guaporé, 1939) é autora de mais de dez obras. Reside em Porto Alegre (RS). Possui quatro filhos, entre eles, o também poeta Fabrício Carpinejar. Entre outros, também lançou as obras Desiderium Desideravi (1991), Vidência e acaso (1992), A migalha e a fome (2000) e as antologias pessoais Pequena Antologia (1992) e Caderno das águas.
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