Entrevista: Paulo Scott

Escritor porto-alegrense, atualmente residindo no Rio de Janeiro, Paulo Scott acaba de lançar seu segundo romance, intitulado Habitante Irreal (Alfaguara, 2011). O livro, produto de seis anos de trabalho e do incentivo da bolsa de Criação Literária de 2010 da Petrobrás Cultural, situa os personagens no Brasil do final da década de 1980, época na qual a abertura política ganha espaço no País, e traz um protagonista desiludido com a atuação do seu partido de esquerda. Após um encontro, debaixo da chuva, com uma índia, o rumo da vida do jovem sofre mudanças e acaba por submeter muitas outras vidas a transformações (inclusive transformando a própria narrativa da obra).

Elogiado pela crítica, o livro foi lançado em Porto Alegre no final do mês passado. A Coordenação do Livro e Literatura realizou uma entrevista por e-mail com o escritor para esclarecer questões sobre a produção deste romance:

1 – A história parece dialogar com a necessidade humana da busca de propósito para a existência, com o desejo de encontrar novos significados e razões para o ser. Em que medida esse comportamento condiz com o palco e tempo no qual situaste a narrativa?

A história gira em torna da busca da identidade. Independentemente dos protagonistas índios, da sua prevalência quase alegórica, há na súbita popularidade virtual de Donato uma contextualização nova, tecnológica, imediatista, casual, marca excêntrica de nosso tempo. Esse aspecto crítico é fundamental na solução da narrativa.
 
2 – A ideia central da trama surgiu a partir da história e de situações imaginadas ou foi influenciada por alguma situação vivenciada?

Escolhi as personagens centrais (sempre procuro trabalhar com personalidades femininas fortes nos meus textos) e a partir das suas idiossincrasias estruturei a narrativa.

3 - Como tu estruturas, enquanto autor, o desenrolar da história? Até que ponto as palavras têm de ser trabalhadas para que se atinja uma tradução das ideias primordiais?

As primeiras versões se apoiam numa linguagem mais complexa e depois busco o que  houver de mais simples, direto, objetivo; a seleção e alternância de palavras fazem parte desse processo.

4 - Escreveste textos dentro de diversos gêneros (romances, contos, poesias, teatro, roteiros,...). Na tua experiência de escritor, o romance demanda um trabalho mais aprofundado para ser escrito (contém mais mensagens, associações do que outros tipos de escrita e permite explorar mais mecanismos narrativos, como a pluralidade de narradores?) ou essas características independem do tipo de texto?

O romance admite uma variedade maior de combinações, não há dúvida. A profundidade e a dedicação para cumpri-las independe do gênero literário - o romance acaba tomando mais tempo, mas não é uma premissa absoluta.

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