Um pouco mais que prosa, com Celito De Grandi

"É arriscado especular antes de ter dados na mão... Inconscientemente começa-se a torcer os fatos para acomodá-los às teorias, em vez de fazer as teorias coincidirem com os fatos."
Sir Arthur Conan Doyle
Um escândalo na Boêmia

A epígrafe que abre o livro Caso Kliemann – A história de uma tragédia parece ter sido escrito especialmente para os envolvidos nas investigações e na cobertura jornalística sobre o assassinato de Megit Kliemann, no início dos anos 60.

Celito De Grandi, na época repórter do jornal Diário de Notícias, acompanhou o desenrolar dos fatos e chegou a participar da cobertura do julgamento de Karan Menezes, responsável pela morte de Euclydes Kliemann. Posteriormente foi diretor do jornal e ocupou diversos cargos públicos, entre eles o de coordenador-geral da assessoria de comunicação do Estado do Rio Grande do Sul, a partir de dezembro de 2004, durante o governo Germano Rigotto.

Celito De Grandi é o convidado para o + que Prosa desta quinta-feira, 19 de maio, às 18h30min, na Biblioteca Municipal Josué Guimarães (av. Erico Veríssimo, 307).


CLL - Por que tu resolveste contar a história dos Kliemann?


Celito De Grandi -
O episódio me acompanha há quase meio século. Quando Margit morreu, fazia pouquíssimo tempo que eu havia começado a trabalhar como jornalista aqui em Porto Alegre. Depois, em 1965, fui escalado para cobrir o julgamento de Karan Menezes. Sempre tive interesse por toda a dramaticidade do caso.


CLL - Como foi desenvolver a pesquisa, quase 50 anos depois?


Celito - Recorri à Assembleia Legislativa, onde me dei o trabalho de ler todos os discursos de Kliemann proferidos durante cinco anos; ao Memorial do Judiciário; ao Hipólito da Costa, com o auxílio de um jovem jornalista que levantou dezenas de capas de jornais. O mais difícil foi conversar com algumas pessoas que, mesmo depois de tanto tempo, não aceitam falar sobre o caso; principalmente moradores de Santa Cruz.


CLL - E por que demorou tantos anos para escrever o livro?


Celito - Pois só agora obtive a colaboração das filhas do casal. Tínhamos um amigo em comum que possibilitou meu contato com a Cristina, em 2006. A partir dela, consegui conversar com as outras irmãs, Suzana e Virgínia, e demais familiares. O repórter tem que ter um pouco de sorte. As irmãs tinham muito ressentimento em falar com a imprensa pela forma como o caso foi reportado na época.


CLL - Enquanto repórter do Diário de Notícias, tu tinhas consciência da cobertura sensacionalista por parte da imprensa?

Celito -
Naquele momento não fiz esse julgamento. Eram outros tempos, épocas distintas. Havia muito exagero, espetacularização. Alguns jornalistas afirmam que o jornalismo era concebido de forma diferente. Hoje um trabalho assim seria inaceitável.

CLL - O que mais te marcou daqueles anos?


Celito - Como a mítica Dama de Vermelho chamava a atenção, pelo fato de ser uma mulher envolvida no caso. Quando ela apareceu, foi um espanto para a sociedade. Era tema de muitas mesas de bar, de conversas entre amigos em todo o estado. E aquilo permaneceu no imaginário das pessoas até hoje. Quando eu estava escrevendo o livro, me perguntavam em que eu tava trabalhando, e quando eu respondia que escrevia sobre o Caso Kliemann, diziam: “Ah, aquele da Dama de Vermelho?”. Ela ficou lembrada como um dos fatos mais importantes do caso.

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