No exílio com Brizola

No dia 28 de julho, Ricardo "Kadão" Chaves, editor de fotografia do jornal Zero Hora, participará do curso 50 Anos da Legalidade, parte da programação do 6º Festival de Inverno.

Leonel Brizola, personagem central da campanha legalista, foi um velho conhecido de Kadão. Em 1974, a revista Veja enviou o fotógrafo até o interior uruguaio, a fim de realizar uma matéria sobre a vida do político no exílio.

Kadão nos deu um depoimento exclusivo sobre os bastidores da matéria – e da famosa foto tirada na ocasião:


Não é muito comum a imprensa dar a versão dos derrotados, mas, em 1974, a Veja resolveu fazer uma matéria sobre os exilados políticos. A oposição ainda não podia voltar ao país. A gente devia acompanhar o dia a dia deles no exterior.

Tanto o Brizola quanto o João Goulart se refugiaram no Uruguai. Brizola permaneceu no interior do país, num município chamado Socca; Jango morava numa fazenda chamada El Milagro  uma brincadeira  com o "milagre econômico" dos militares.

Eu e o Luís Cláudio Cunha fomos até Montevidéu e de lá seguimos para a cidadezinha onde o Brizola  vivia. A gente o encontrou num campo aberto, distante, afastado. De início, ele não queria dar entrevista. Estava desconfiado. Era bem típico dele - chegou a soltar uma daquelas suas frases características: "Quando a gente tá por baixo, todo mundo mija em cima".

O Luís Cláudio ficou insistindo para fazer a matéria, dizendo que a gente tinha vindo de longe para entrevistá-lo. Eu mencionei que meu pai, José Hamilton Chaves, tinha sido até mesmo assessor de imprensa do Piratini durante a campanha da legalidade (há até uma sala em homenagem a ele no Palácio). Consegui a tal da foto naquela hora. Mesmo assim, ele continuava irredutível, dizia que não ia dar mais declarações e pronto.

Quando a gente resolveu ir embora, Brizola nos ofereceu uma carona na kombi que ele tinha. Eu e o Luís  aceitamos, é claro.  

Ao chegarmos em Montevidéu, ele avisou que ia dar duas declarações que a gente podia publicar: a primeira era "Fui derrotado militarmente, não politicamente"; a outra era "Vou voltar".

Na hora, eu não acreditei. Achei que ele tinha ficado maluco. Não dava pra imaginar que, já no Brasil, o Brizola ainda seria governador do Rio e, mais tarde, candidato à Presidência.

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