Leitura do Fim do Mundo III


Estivemos conversando com alguns escritores, críticos, jornalistas e professores a respeito de um tema bastante citado ultimamente: o fim do mundo, que acontece no dia 21 de dezembro de 2012 - mais conhecido como hoje. E, aproveitando os últimos instantes de existência - tanto virtual quanto real -, perguntamos para cada um deles qual seria sua última leitura (ou releitura) antes que o mundo acabe.

Para dividir a sua leitura com a gente, convidamos as escritoras Martha Medeiros e Carol Bensimon, os escritores Henrique Schneider e Luís Dill, o poeta Sidnei Schneider e o DJ e agora escritor Claudinho Pereira:



Martha Medeiros

Olha, é o tipo da pergunta que estimula uma resposta criativa, mas a verdade é que se eu acreditasse mesmo em fim de mundo, não leria NADA! Não teria a placidez necessária...

Leitura requer solidão, e eu iria querer mais é estar junto dos meus...






Carol Bensimon

Meu livro para o fim do mundo seria 2666, do Roberto Bolaño. Porque é um texto que parece que não se esgota nunca, provavelmente nem na iminência do apocalipse.





  
Henrique Schneider

Olha só: quando a gente está lendo, não há mundo que se acabe. Porque cada novo texto bom é também um mundo que começa. O fatro é que tenho no braço, tatuados em conjunto, um mundo e um livro de páginas abertas. E a razão é simples: cada livro pode ser um mundo novo que se abre. Assim, quando a gente lê, não só o mundo não se acaba, como outros mundos também se abrem... De qualquer modo, se tivesse que escolher, acho que começaria a reler Cem Anos de Solidão, do Gabriel Garcia Marquez. Ou Cecilia Meirelles. Ou Lorca. Com qualquer deles, chegaria bem acompanhado no novo mundo... 





Luís Dill

Em caso de fim do mundo eu pegaria meu velho volume de Histórias dos mares do sul, do W. Somerset Maugham. Viajaria pelo Pacífico Sul na companhia de uma grande mestre que, mesmo em cenários espetaculares, soube destacar o lado menos nobre dos humanos. 
 





Sidnei Schneider

Eu leria mais uma vez Obras Completas (y otros cuentos), veja-se só quanto humor no título, primeiro livro do escritor guatemalteco Augusto Monterroso (1921-2003), do qual já traduzi alguns contos, como O Concerto e O Eclipse. Um dos melhores livros deste que é um dos principais escritores latino-americanos do século 20, com uma obra repleta de humor e sarcasmo críticos, elogiado por Gabriel García Márquez, Isaac Asimov, Carlos Fuentes e outros, e ainda não suficientemente conhecido no Brasil. 





 Claudinho Pereira

Certamente, a minha ultima leitura seria Uma história da leitura, de Alberto Manguel:

"Com uma das mãos pendendo ao lado do corpo e a outra apoiando a cabeça, o jovem Aristóteles lê languidamente um pergaminho desdobrado no seu colo, sentado numa cadeira almofadada, com os pés confortavelmente cruzados. Segurando um par de óculos sobre o nariz ossudo, um Virgílio de turbante e barba vira as páginas de um volume rubricado, num retrato pintado quinze séculos depois da morte do poeta. Descansando sobre um degrau largo, a mão direita segurando de leve o rosto, são Domingos está absorto no livro que segura frouxamente entre os joelhos, distanciado do mundo. Dois amantes, Paolo e Francesca, comprimem-se sob uma árvore, lendo um verso que os levará à perdição: Paolo, tal como são Domingos, toca o rosto com a mão; Francesca segura o livro aberto, marcando com dois dedos uma página que jamais será alcançada. A caminho da escola de medicina, dois estudantes islâmicos do século XII param para consultar uma passagem num dos livros que carregam. Apontando a página da direita do livro que traz aberto no colo, o Menino Jesus explica sua leitura para os anciãos no templo, enquanto eles, espantados, não convencidos, viram inutilmente as páginas dos seus respectivos tomos em busca de uma refutação.Tão belo quanto em vida,observada por um cão de guarda, a nobre milanesa Valentina Balbiani folheia seu livro de mármore sobre a tampa de um sepulcro onde está esculpida, em baixo-relevo, a imagem de seu corpo descarnado. Longe da cidade turbulenta, em meio a areia e rochas crestadas, são Jerônimo, tal como um velho passageiro à espera do trem, lê um manuscrito do tamanho de um tablóide; em um canto, um leão escuta deitado. O grande humanista e erudito Desidério Erasmo compartilha com seu amigo Gilbert Cousin uma anedota do livro que está lendo e que repousa aberto sobre o atril à sua frente."

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