Tatata: FE-NO-ME-NAL

Depoimento de Renato Rosa

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Chansooon d´amouuuurrrr...ratatatatata
Assim ele chegava cantando a letra da música do "The Manhatan Transfer" e vinha à mesa da gente...no Butikin já na década de 70...mas éramos amigos e da primeiríssima geração do Butikin.

Uma pena, nem imaginem o quanto lamento.
Na última vez que estivemos juntos achei-o muito abatido, magrinho, velhinho, acabadinho mesmo e...sem humor.
Imaginem o Tatata sem humor. Impraticável!! Já não era ele.
Foi na missa de sétimo dia do Felipe Oppenheimer....saímos da igreja Santa Teresinha e fomos tomar um café no Mercado ali em frente.
Na verdade ele estava deprimido, solitário, sem confessar, evidentemente achava-se abandonado, sem valor...foi a dispensa da televisão.

Nosso mundo agora fica definitivamente menos culto e alegre.
Gente como nós, guardaremos as melhores lembranças dele.
Sei de histórias memoráveis de Tatiboy!!!!!
Éramos amigos desde 1963, logo que voltou da Europa e África.
Na anteantepenúltima vez que nos vimos e falamos demoradamente foi em seu apartamento - confessou-me que havia doado em testamento sua biblioteca para a Universidade de Santa Maria, cidade onde nasceu - e à saída, retirou da parede um desenho do Fuhro, fez uma dedicatória no verso da moldura e me entregou.
Já era uma despedida.
Cultíssimo como poucos, uma cultura vivida, vívida e assimilada...e, muitas vezes, com ele bem diria: regiamente repartida.

O meu telefone não parou um minuto - desde as 20h - não consegui terminar a minha salada noturna...aliás, consegui agora, três horas depois.
Pena, um talento absoluto.
A legítima perda irreparável...e eu o chamava (brincando pois a intimidade
permitia) de palhaço eletrônico...rsrsrs...
Estou muito sentido, por isso dividir a minha tristeza com vocês, saibam: morreu um dos homens mais cultos – sem exagero e em todos os tempos – do Rio Grande do Sul.
O Tatata que me deu o "Sketchs of Spain" do Miles Davis, a primeira pessoa a me falar de Marcel Proust (sua paixão, que devorou ene vezes e no original!!!), o Tatata que me fez ouvir Stockhausen (O canto dos meninos na fornalha), o Tatata com quem tomei um porre ao vivo e a cores no Chez Dudu certa noite com a diva Sarah Vaughn que cantarolava só para nós dois;  o Tatata que amanheceu comigo numa da incontáveis noites butikinescas e ele e eu de mãos dadas com a Alaíde Costa que cantava só para nós a "Bachiana nº 5" do Villa Lobos;  e a mais memorável de todas as noites: em seu apartamento, Paulo Gracindo recitando poemas, Clara Nunes fazendo vocalizes e cantando coisas de Minas...enquanto tomávamos um conhaque à beira da lareira, ele, um amigo e eu...ele, Tatata, inesquecível para sempre.
Bjs.

Hebe Camargo, Tatata Pimentel, Berenice Otero e Renato Rosa
Foto: Rubens Borges, BD, 15/9/1973 - Blog Almanaque Gaúcho/ZH

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