Ronald Augusto - A Criação Poética

Hoje ocorre o segundo encontro do poeta Ronald Augusto com os participantes da sua Oficina de Criação Poética. Para expor aos leitores do blog da CLL as atividades realizadas nos encontros, conversamos com Ronald quanto ao método, a construção da linguagem poética e o cenário da poesia contemporânea. Segue uma breve apresentação:






A OFICINA


A oficina não será realizada a partir de uma perspectiva puramente histórica. Como o caráter dos encontros é mais prático, não haveria espaço para abordar a poesia em relação à história da literatura, em sentido cronológico - desde suas origens, passando pelo barroco e chegando ao contemporâneo -, embora seja crucial conhecer o que já foi escrito. Por isso vamos tratar mais particularmente dos desdobramentos do ritmo no verso livre, que é diferente do ritmo no verso metrificado, e do trabalho do texto.


COMO FUNCIONA


Sempre no início de uma oficina, pede-se aos participantes para listar seus três poetas favoritos. As respostas costumam revelar nomes relativos ao Modernismo e seus sucessores. Considerando as influências de cada um dos alunos, que certamente se refletem no seu texto, aplica-se, na leitura do material produzido, conceitos e teorias diretamente ligadas à criação que de uma maneira ou de outra se reportam a algum aspecto vivo da tradição.


A LINGUAGEM

A poesia não deve ser construída com base naquela linguagem consagrada, ou seja, aquela imagem de poesia (quase um preconceito) que existe na cabeça de muitos que pensam em termos de que só o metro e a rima dão conta do fazer poético. Existe ainda muita ingenuidade em quem começa a escrever poesia - e muito tem a ver com esse (quase) preconceito e com a herança e não a conquista do "verso livre", que faz com que muitos escrevam na verdade prosa em forma de versos.


O OBJETO POESIA

Poesia não é expressão de sentimentos. É um texto, objeto verbal que se realiza esteticamente. É um trabalho que deve ser pensado para então ser melhorado no sentido de radicalização da consciência de linguagem. Tem o ritmo (sobretudo o inumerável como diz Manuel Bandeira), tem a construção de uma palavra nova, tem o subtexto, tem o diálogo intertextual. Poesia não é uma compilação de lamentos ou confissão de amores do "poeta". A principal tarefa do poeta é a articulação estética, situando o verbal na perspectiva de uma arte.


A POESIA HOJE

A poesia atual tem pontos de contato com essa oralidade que caracteriza a poesia em suas origens; a poesia do nosso tempo simula essa oralidade; evoca uma ficção de Borges segunda a qual um verso bom tem que ser lido em voz alta, um verso bom exige a sua pronúncia. Poesia é algo sério, mas não pode ser chata. Seguindo esse princípio, aqui em Porto Alegre, por exemplo, temos diferentes gerações cujo trabalho poético baseia-se principalmente nos conceitos e na prática da inovação e da sonoridade mais coloquial.

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