Retrospectiva Açorianos: 2009

Vencedor na categoria Livro do Ano: A Parede no Escuro, de Altair Martins 

A Parede no Escuro foi o primeiro romance de Altair Martins. Anteriormente, o autor publicou os livros de contos Como se moesse ferro (1999), dentro do olho dentro (2001) e Se chovessem os pássaros (2003). Em todas essas obras a busca por uma prosa inquietante, onde a vitalidade surge da própria linguagem, perpetuou. Entretanto, em seu romance, Martins propôs a si mesmo um desafio a mais. A ideia era construir uma narrativa longa e colocar nela mais de um narrador no mesmo espaço narrativo, em uma mesma cena, sem quebra. O que se concretizou. Foi assim que Emanuel, Maria do Céu, Onira, Lisla, Fojo e Adorno ganharam pulsação de vida e passe livre para se manifestarem. 

Os personagens criados por Martins tem suas histórias atravessadas uns pelos outros, fruto do acaso e de coincidências. Da mesma forma, seus discursos se cortam, às vezes tornando-se confuso saber quem está falando. Essa riqueza linguística que o autor foi capaz de proporcionar a seus leitores não é uma constante na literatura de prosa brasileira. Martins, nesse trabalho que custou sete anos de dedicação, conseguiu atingir a originalidade e fazer seu público querer mais. O autor consegue trabalhar a linguagem e os focos narrativos ao mesmo tempo que não perde o tempo do enredo e o significado do texto. Temas de peso como o medo, a culpa e a covardia acentuam a capacidade de impacto do romance. O resultado dessas forças desenhadas pela intensidade é uma obra que precisa de submersão e degustação para virar completamente viva na mente de quem a lê. 

A história do padeiro Adorno que é atropelado em uma manhã pelo professor de matemática Emanuel, apreensivo com os desenrolares de sua vida, toma as configurações de um desastre e vira o ponto de desespero de todos na trama, os arrancando para um estado de espírito não sabido, na suspensão do caos. Assim, ao longo da narrativa vamos descobrindo como um descuido que transformou-se em acidente desprepara a todos, forçando um auto-conhecimento ou uma fuga do velho si mesmo. Todos enfrentam uma situação desconhecida, de conflito, na qual estão aprisionados, e nós acompanhamos suas tentativas de recuperar a claridade das coisas.

Além do Prêmio Açorianos de Literatura, o livro recebeu o Prêmio São Paulo de Literatura, um dos mais importantes do País. Com outras obras, Altair Martins já faturou diversas premiações, como o Prêmio Guimarães Rosa e o Prêmio Luiz Vilela. Além disso, já foi publicado em países com França, Uruguai, Itália, Portugal e Estados Unidos. Além de escritor, o autor é professor, bacharel em Letras e mestre em Literatura Brasileira. No ano passado, lançou mais um livro. Enquanto Água, um misto de contos e crônicas que guardam em comum uma temática relacionada com o mar ou a água.

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