Retrospectiva Açorianos: 2001

Vencedor na categoria narrativa longa: A Cocanha, de José Clemente Pozenato 

Cocanha é um país mitológico, muito popular durante a Idade Média. Nessa terra não há trabalho, o alimento é abundante, o sexo fácil, o vinho nunca tem fim e as pessoas permanecem jovens para sempre. José Clemente Pozenato parece ter encontrado uma semelhança entre essa descrição e a terra brasilis. Não efetivamente de forma física e aliada ao real, mas sim, de mandeira imaginária e metafórica. Tal relato se assemelha e muito com a promessa que o governo brasileiro oferecia aos imigrantes europeus no século XVIII, ou que eles mesmo teciam à respeito do Brasil. Um local de facilidades e vida garantida.

É dessa ideia que parte o livro de Pozenato. Acompanhar da promessa a desilusão, até, a possível solução. A Concanha é o segundo livro de uma triologia que se inicia com O Quatrilho (1985) e termina com A Babilônia (2005). O volume, em especial, se foca em narrar a saga de um grupo de italianos, camponeses pobres vindos da aldeia de Roncà, com o sonho de ter obter sucesso no novo paraíso, a América. O livro revela o processo de adaptação dos imigrantes italianos na nova terra sul-americana, seguindo sua trajetória, dificuldades, e a re-configuração de sua identidade nesse lugar diferente. 

Pozenato narra desde a partida da Itália, os acontecimentos durante a viagem no navio, até a chegada, as instalações das famílias nos lotes te terra, para assim, prestar um relato sobre a formação da agricultura familiar na América, especificamente, na Serra do Rio Grande do Sul. Nos informa como a ideia do oásis brasileiro caí por terra, e como os imigrantes partem dessa para sobreviver, reflexos que são integrantes da criação do estado nacional. Percebemos que a principal dedicação da obra é a de acompanhar a formação da identidade cultural. Ela nos demonstra, passo a passo, como os personagens acabam criando novos comportamentos, se reinventando, estabelecendo um novo perfil culturológico e colaborando não só para o desenho da economia da região, mas também, para a elaboração de seu imaginário. 

De certa forma, o que Pozenato faz é uma submersão em sua genealogia, já que o próprio é descendente de italianos, sendo da região de Caxias do Sul. Ao cruzar suas raízes com as origens do Rio Grande do Sul, o filósofo e professor universitário acaba por criar uma grande oportunidade de autoconhecimento a todos nascidos no estado e não somente.

 * José Clemente Pozenato ainda é autor de outras quinze obras. Reconhecido e bastante lembrado, é ainda membro da Academia Sul-Brasileira de Letras.

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