Flávio Loureiro Chaves

Quando Flávio Loureiro Chaves subir ao palco do Teatro Renascença para receber o  IV Prêmio Joaquim Felizardo, na categoria Literatura, a Prefeitura de Porto Alegre estará homenageando não só um de seus principais intelectuais, cuja importância na vida cultural gaúcha é imensurável, mas também um dos principais estudiosos das obras de escritores como Erico Verissimo e Simões Lopes Neto, além de um professor que influenciou de maneira indelével toda uma geração de alunos.

Alunos como, por exemplo, Luís Augusto Fischer. Flávio foi seu professor no curso de Letras da UFRGS no fim dos anos 70, quase na mesma época em que terminava sua tese de doutorado sobre a obra de Simões de Lopes Neto. “Naquela época, ele já era uma figura de peso para os alunos. Era um professor muito desafiador. Foi ele que me fez ler Borges, por exemplo.”

Flávio influenciou também o modo como Fischer encararia a profissão de professor e estudioso: “Uma coisa que me chamava muito a atenção (e que me influenciou bastante) foi que ele conseguia conciliar a, digamos, vida pública com a vida acadêmica.” Fischer também cita o fato de Flávio não se deixar levar pelo bairrismo, mesmo quando se detinha em autores tão consagrados como os já citados Erico Verissimo e Simões de Lopes Netto. “Ele tinha uma linha teórica muito bem definida, e sempre colocava os nossos autores lado a lado com a literatura estrangeira. Nesse sentido, é um dos nossos intelectuais mais cosmopolitas.”

O também professor da UFRGS Homero Vizeu lembra como, mesmo antes de assistir a suas aulas, Flávio já era um nome importante para a cena cultural gaúcha, em função de sua passagem pelo Caderno de Sábado, do jornal Correio do Povo, e sua colaboração com a imprensa em geral. “Depois disso, quando fui ter aulas com ele, vi que ali havia também um domínio completo sobre a obra de Machado de Assis.” Homero também concorda com Fischer quando diz que Flávio era um professor “extremamente desafiador e que, ao mesmo tempo, sabia como te deixar extremamente interessado no que ele tinha a dizer. O Flávio é dono de uma retórica inigualável”.

Coisa que até mesmo seus amigos pessoais não hesitariam em dizer. Um deles, o livreiro Rui Gonçalves, da tradicional livraria Palmarinca, vai até mais adiante ao afirmar que, guardadas as proporções, Flávio “é o nosso Antonio Candido”. “Eu conheço o Dr. Flávio desde a década de 80 e tive o privilégio de assistir a muitas de suas aulas. Ele é um dos nossos maiores intelectuais.”

Para fechar, fiquem com uma espécie de profissão de fé do professor, retirada da apresentação do livro Filosofia Mínima, de, não por acaso, seu aluno Luís Augusto Fischer:

Fischer conta que na abertura dos seminários de pós-graduação eu distribuía uma lista de 50 livros sem a leitura dos quais nem principiava a discussão de qualquer coisa. E me atribui certa arrogância. Não, meu caro Fischer, não era arrogância. Lancei o desafio de caso pensado, minha política cultural num cenário onde a maioria cinzenta tinha renunciado a ler e escrever. Hoje a alegria é imensa. Você leu os 50 livros, multiplicou-os por muitos outros e por algumas dezenas de ideias. Estas só podem iluminar aqueles que trafegarem nestas belas páginas.

(...)

Dizendo de outra maneira, não há propriamente literatura e nem pode haver leitura efetiva se não for vigente o prazer do texto.

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