Retrospectiva Açorianos: 1995

Vencedor na categoria poesia: Palavra Mágica, de Ricardo Silvestrin

“A palavra e a coisa/jamais serão a mesma coisa”. O seguinte trecho de Ricardo Silvestrin define bem a direção que o poeta escolheu para se aventurar na obra Palavra Mágica (1994), seu quinto livro. Uma busca que se permitiu investigar a relação disforme e difícil que se constrói entre o poeta e o poema, sempre colocando a poesia em primeiro lugar, como se o escritor fosse apenas uma ponte da qual ela se utiliza para desembarcar em nossa realidade.

Porém, o livro não trata apenas da poesia em si. A obra se destaca também por ser multifacetada. O texto político, engraçado, irônico, filosófico e romântico estão presentes ao longo do livro, de maneira paralela. E é por meio de um tom confessional e de um vocabulário coloquial que tantos desdobramentos são sustentados pelas 95 páginas que compõe a publicação.
 
Segundo o escritor Donald Schüler, no prefácio do livro, “Os versos de Ricardo, desafiadores, nos obrigam a pensar no que fazemos e somos”, o que atribui a obra um poder de interferência e reflexão. Já o poeta Lêdo Ivo, em uma mensagem mandada para Silvestrin, chamou atenção para o talento do poeta, “uma palavra ao mesmo tempo precisa e borbulhante”.

Algumas dessas observações podem nos ser mais claras a partir de um dos poemas que formam o livro:

palavra não é coisa
que se diga
quem toma a palavra
pela coisa
diz palavra com palavra
mas não diz coisa com coisa
a palavra pode ser pesada
a coisa, leve
e vice-versa não é coisa alguma
a palavra coisa
não é a coisa palavra
palavra e coisa
jamais serão a mesma coisa

Ao lê-lo, temos a impressão de que quem nos fala é o próprio poema, sem nenhum intermediário. Segundo Alice Ruiz, isso não é uma tarefa fácil. “São muitos no caminho e poucos que chegaram, deixando dito o que tem que ser visto com essa humildade de se transformar em mero veículo. E não me venham dizer que isso é pouco ou que é fácil. Tem muita vaidade no ar atrapalhando o curso livre do rio das palavras/coisas”, escreveu a poeta curitibana na contracapa do livro. A escritora ainda deixou um recado: “Por isso, deixo uma praga: que a magia dessas palavras se espalhe logo por todo o Brasil. Sorte de quem as colher”. E há 16 anos o desejo de Alice vem se concretizando. Desde 1995, mais sete livros de poesia foram lançados pelo escritor, ampliando assim, a sua contagem de leitores.

Mais sobre o escritor:

Ricardo Silvestrin (Porto Alegre, 1963) também é professor e músico. Faz parte do grupo musical os poETS, juntamente com os também poetas Ronald Augusto e Alexandre Britto. Dá aulas no Curso de Formação Audiovisual da Unisinos (Universidade do Vale dos Sinos) e atualmente é diretor do IEL (Instituto Estadual do Livro). Ao todo, já publicou 14 livros.

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