Entrevista: Celso Sisto

Doutorando em Teoria Literária, o escritor Celso Sisto é finalista na categoria Infantil do Prêmio Açorianos de Literatura 2011 com o livro Diáfana.

Conversamos com o autor sobre sua formação e atuação no campo da Literatura, o processo de construção do texto e suas impressões sobre a vida no Rio Grande do Sul.

Quando foi que você decidiu trabalhar com literatura infantil e infanto-juvenil? O que te levou a essa escolha?

Eu sempre li muito, desde pequeno. Quando terminei a graduação em artes cênicas, em 1988, fui fazer uma Especialização em Literatura Infantil e Juvenil, na Universidade Federal do Rio de Janeiro e foi ali que meu interesse pela literatura infantil começou a ganhar corpo. Em seguida, fui trabalhar como crítico literário na Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) e meu universo de conhecimento dessa literatura infantil contemporânea ampliou-se muitíssimo. Na época eu era também professor de literatura numa escola no Rio de Janeiro e foi para esses alunos, do Instituto Nazaré, no bairro de Laranjeiras, que escrevi as minhas primeiras histórias infantis.

Quando você travou o primeiro contato com o mundo da contação de histórias? Quanto isso influenciou teu trabalho como escritor?

Desde criança, na escola primária ainda, o contato com as histórias me fascinava. Na minha casa se contava muitas histórias, meu pai, minhas tias, minhas avós. Esse modelo de proximidade, de pai, avó, mãe, tia que conta história sempre ficou em mim, pela vivência. Mas foi também na Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil que travei o primeiro contato com um grupo de contadores de histórias (da Venezuela) e fiquei sabendo que era possível ser um contador de histórias profissional. Então, fundamos nosso grupo, o grupo Morandubetá, que existe há mais de 20 anos e está junto até hoje, com a mesma formação. E contar histórias, trabalhar com a narrativa na oralidade foi fundamental para o meu trabalho de escritor. Costumo dizer que virei um "escritor de ouvido". Testar a história na narração oral ajuda a "equalizar" a história, a apurar o ritmo, a perceber o que está sobrando e o que está faltando...

Você também atua como crítico literário e é doutorando em Teoria Literária. Você acha que essa formação ajuda ou atrapalha no seu processo criativo?


Ajuda enormemente. Quando você se habitua a perceber os mecanismos de construção dos textos literários, em especial, você também se torna muito exigente com o seu próprio texto. Mas no ato da criação, isso tem que ficar momentaneamente esquecido (ou relegado), para que a criação possa fluir sem amarras. Esse processo ultra crítico é para a segunda etapa do trabalho. E escrever para o público infantil e juvenil requer muito conhecimento desta literatura, muita leitura, frequentar livraria, acompanhar os prêmios, estar em dia com toda essa produção. E, principalmente, estar em contato com esse leitor. Ir às escolas, como vamos, nos programas de promoção da leitura, é fundamental para se ter um retorno de como funcionam, para o leitor, as nossas obras.


Seu trabalho parece ser bastante calcado nas relações familiares. Isso foi intencional ou algo que surgiu espontaneamente?

Surgiu espontaneamente. Jamais decidi: vou escrever sobre as relações familiares! Mas acho impossível pensar em uma história para crianças sem que esta envolva relações familiares. A não ser que a criança esteja sozinha no mundo e isolada de tudo... Do contrário, as relações familiares, de algum modo, serão importantes e virão à tona! E são nessas relações que os maiores conflitos aparecem. E são essas relações que marcam para sempre a vida das crianças e dos jovens. Mas eu também gosto muito de escrever sobre situações polêmicas, essas questões que exigem que o escritor encontre uma maneira peculiar para abordá-las, para tratá-las, enfim.

Você é carioca, mas mora há muito tempo em Porto Alegre. Como ocorreu a escolha de morar aqui? Como foi se adaptar à cidade?

Escolhi viver no Rio Grande do Sul. Acho que é um privilégio você poder escolher onde quer viver. Saí do Rio de Janeiro em um momento em que a cidade estava muito violenta e eu, amedrontado. Queria mais tempo e um lugar mais sossegado para poder escrever e ilustrar. Fui morar e trabalhar em Gramado, primeiro. Depois é que vim para Porto Alegre. Mas hoje ainda me divido: moro metade da semana em Porto Alegre, principalmente por causa do Doutorado, dos trabalhos, das viagens; a outra metade, na praia de Cidreira. Preciso estar perto do mar. E preciso da tranquilidade dos lugares pequenos para poder produzir, escrever, criar. Amo Porto Alegre, mas ainda tenho muito que descobrir sobre a cidade  e seu modo de vida. Minha casa em Porto Alegre é no Centro. Adoro o centro histórico, a arquitetura, o viaduto da Borges (uma verdadeira obra de arte!), o Guaíba, os cafés dos museus. Mas só depois de 13 anos vivendo aqui, tive coragem para escrever uma obra ambientada no Rio Grande do Sul. Acabei de publicar, pela editora Planeta, uma novela infantojuvenil ("O rei das pequenas coisas") totalmente ambientada no Rio Grande do Sul. E, quando me perguntam, hoje em dia, de onde eu sou, eu digo, sem titubear: sou cariúcho!

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