Daimon junto à porta



Daimon junto à porta (Dublinense, 2011), finalista da edição deste ano do Prêmio Açorianos de Literatura Adulta e Infantil na categoria Conto, é um livro composto por dez histórias escritas por Nelson Rego. Como é explicado na orelha da publicação pelo escritor e professor de Nelson em oficinas literárias Charles Kiefer, o termo daimon presente no título transformou-se, na tradução para o português moderno, em demônio. Mas Nelson busca restaurar, em seu texto, o sentido original da palavra: o daimon é o espírito inspirador, a presença mítica que, somado à faceta humana, pode construir o paradoxo gerador da literatura de ficção.  

Nelson Rego é formado em geografia, filosofia, sociologia e educação. Atualmente trabalha como professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Autor de Tão grande quase-nada, livro de biografias ficcionais, já ganhou prêmios literários com poesias e utilizou produções suas para participar das antologias de contos Inventário das delicadezas, Brevíssimos e Novos contos imperdíveis. Mas de nada adianta saber a trajetória de um escritor sem ter a oportunidade de ler suas palavras. Portanto, leia abaixo um pequeno trecho do conto A tecelagem do mal, presente no livro que concorre ao Açorianos 2011:

Eu mal sabia rezar em latim, mas deduzi logo que o casal esperava de mim gestos fortes com o crucifixo em punho, um banho de água benta derramado sobre a menina e orações com a pompa e o drama de sonoridades estranhas, pronunciadas em língua incompreensível. Tentei lhes explicar que raríssimos padres são autorizados à prática do exorcismo, que o mais adequado seria levar a criança ao médico. Prometeram-me que, pela manhã, iriam à cidadezinha em busca do clínico. Porém, rogavam que eu acalmasse a fúria da noite, e o único padre próximo em muitos quilômetros ao redor, naqueles campos sem luz elétrica, era eu.

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