Espaço de invenção

Terminou ontem a Oficina de Prosa, aqui na Biblioteca Josué Guimarães, com o escritor Ronald Augusto. Ao todo foram quatro encontros, onde os alunos produziram uma série de textos. Ronald pediu que as narativas tivessem um tema ternário -- manhã, tarde e noite, sim, não e talvez, etc. Falamos com ele um pouco antes da última aula sobre as diferenças entre uma oficina de prosa e uma de poesia, quais os tipos de alunos que buscam esses cursos e a dificuldade de perceber o texto como um espaço de invenção.

CLL - Quais foram as suas impressões sobre a turma? Em que sentido se deu a evolução nos textos?

Ronald Augusto
- Hoje que é o útlimo dia é que a gente vai sentir isso. Nós vamos ver como eles receberam as sugestões que eu passei, os comentário que eu fiz. Mas o público se mostrou bastante interessado, receptivo. Uma boa parte já era bem escolada nesse meio de oficinas, isso ficou bem nítido logo no começo.


CLL - Sim. Era algo que se via nos encontros, pela forma como eles participavam. Mas com quem você prefere trabalhar: iniciantes ou veteranos?


Ronald Augusto - Prefiro trabalhar com quem está disposto a experimentar e fazer coisas novas. E isso não é todo mundo que tem. Esse é o meu problema: encontrar resistência, tanto em pessoas com uma certa experiência quanto em pessoas sem nenhuma. São pessoas que não querem abandonar seus hábitos de escrita, seus vícios. Tem que haver um espaço pra correr riscos.

CLL - Você atua mais na área da poesia, mas como foi lidar agora com prosa?

Ronald Augusto
- Na verdade, comecei a dar oficinas de prosa a pedidos do pessoal da Palavraria. Foi interessante pra mim, porque eu gosto muito de prosa. E eu achei interessante também fazer uma oficina pra quem está iniciando na prosa. De certa maneira, eu também estou iniciando nesse campo. Eu faço há pouco tempo, até mesmo terminei um livro de prosa, que vai ser publicado logo agora.


CLL - Um livro de contos?


Ronald Augusto - São pequenos contos. Mas nada de minicontos! (risos). É um texto que se liga mais a uma prosa machadiana.

CLL - Mais episódica.


Ronald Augusto
- Exatamente. E trabalhar com isso me levou a ler mais sobre prosa, a crítica da prosa.


CLL - E quais são as diferenças mais gritante entre uma oficina de poesia e uma de prosa?


Ronald Augusto - A diferença mais gritante é fazer quem escreve prosa perceber que o texto pode ser um espaço de invenção, não só pra contar uma história de modo competente. Mas isso até acontece, hoje em dia, em poesia. As pessoas acham que só por dominar alguns recursos poéticos, por fazer algo minimamente lírico, já podem fazer poesia. Então eu noto isso: na prosa, até por ser mais aceita pelo mercado, as pessoas tendem a realizar um texto mais correto, mais polido, que não agrida tanto o leitor. E o artista não tem que seduzir nem nada, tem que propor "novos modelos de sensibilidade", como disse o Décio Pignatari.

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