Os livros da selva

Estreou na semana passada em Porto Alegre mais um filme da série O Planeta dos Macacos. Com o subtítulo de A Origem, a produção é o que se chama nos Estados Unidos de prequel -- conta a história ocorrida antes do clássico de 1968, estrelado por Charlton Heston e Roddy McDowall.

O filme é uma adaptação de La Planète des Singes, de 1963, escrito por Pierre Boulle. Não foi a primeira nem a única vez que a literatura se valeu desses animais em suas tramas. Já no século 16, o chinês Wu Chengen pôs no papel uma lenda de seu país. Jornada ao Oeste dá conta de uma peregrinação à Índia feita por um monge budista. Ele é protegido pelo Rei Macaco, que é capaz de viajar dez mil quilômetros com uma simples cambalhota, ter imunidade contra fogo e água, poder voar montado em nuvens, carregar uma montanha em cada ombro, ficar invisível e transformar-se em qualquer coisa, seja animal, vegetal ou mineral.

Em 1914 o norte-americano Edgar Rice Burroughs lançou o primeiro livro da série Tarzan. Publicado dois anos antes na revista pulp All-Story Magazine, Tarzan of the Apes tornou-se tão popular que seu autor seguiu com o personagem em mais de duas dúzias de continuações (uma delas, Tarzan and the Jewels of Opar, foi até mesmo traduzida por Manuel Bandeira e lançada no Brasil em 1956).

A história é bastante conhecida: filho de aristocratas ingleses que viviam na África Equatorial, o órfão John Clayton é batizado de "Pele branca" ("Tarzan", na linguagem animal imaginada no livro) por seus pais adotivos, os gorilas Kala e Kershak. Mais tarde, Tarzan encontra Jane Porter, jovem americana que está em excursão pela costa africana. Quando ela volta a seu país, Tarzan deixa a selva e sai a sua procura. Nos livros seguintes, Tarzan e Jane chegam a se casar e ter um filho. Descontente com a hipocrisia da civilização, a família retorna para a África, local onde ocorrem as aventuras posteriores do herói.

Tarzan of the Apes teve relativo sucesso crítico na época de sua publicação. Os livros subsequentes foram recebidos mais sobriamente. Dizia-se que os enredos eram formulaicos e repetitivos, para não falar nos personagens  bidimensionais e diálogos engessados.


Mesmo que Burroughs não fosse considerado um escritor de talento, muitos o consideravam um excelente contador de histórias. Gore Vidal, por exemplo, escreveu um artigo sobre o personagem para a Esquire, no qual elogia Burroughs por ter criado uma "convincente figura fictícia".


Ilustração de John Lockwood Kipling, pai do autor.
Outro livro sobre uma criança selvagem foi escrito por um contemporâneo de Burroughs: Rudyard Kipling. Em O Livro da Selva, Kipling relata tudo "o que vi, ouvi ou sonhei sobre a selva indiana". Os contos da coleção apresentam Mowgli, um menino criado por lobos. Seus melhores amigos são um urso chamado Baloo e uma pantera de nome Baghera.



Nos textos de Kipling, os Bandar-log são uma tribo de macacos (da espécie langur, mais especificamente) que fazem troça de tudo e se gabam por não terem líderes nem chefes. Mowgli é sequestrado por eles e resgatado mais tarde por seus amigos. No fim, os Bandar-log até mesmo executam um hino da tribo, onde se vangloriam por terem "mãos extras" e caudas "no formato de um arco de cupido". 


Claro, nossa lista de obras literárias sobre primatas ficaria incompleta sem  o conto de Edgar Allan Poe, Os Assassinatos da Rua Morgue, lançado aqui pela L&PM. O problema é que, caso explicitássemos o papel do macaco na trama desvendada por Auguste Dupin, estragaríamos a supresa de quem ainda não leu a história.  Então, basta dizer que há um orangotango envolvido. Se isso não despertar a sua curiosidade, sinceramente, não sabemos o que mais poderia.

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