Falta do que fazer

De Platão a Mario Quintana, de T.S. Eliot a Michel de Montaigne, muitos foram os escritores e pensadores que teceram loas à falta do que fazer. E é precisamente esse o tema do ciclo de conferências Mutações: Elogios à Preguiça, organizado por Adauto Novaes. O filósofo e professor já é conhecido por elaborar palestras em torno de um único tema (que quase sempre resultam em coleções de ensaios). Foi o caso de Os Sentidos da Paixão, O Olhar, O Desejo e Ética, Tempo e História.

No ciclo deste ano, foram convidados nomes já consagrados da seara cultural e acadêmica brasileira (Maria Rita Kehl, Antonio Cícero e Sergio Paulo Rouanet) e outros que se destacaram mais recentemente (Francisco Bosco, Guilherme Wisnik), além do próprio Novaes.

As conferências são uma realização do Centro de Estudos Artepensamento e irão passar pelo Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Belo Horizonte, de 11 de agosto a 27 de outubro. Conversamos com Novaes sobre a importância da preguiça no mundo moderno e sobre a possibilidade do ciclo passar pela Capital.

Como você e os organizadores do ciclo chegaram a esse tema?
Já venho propondo nos últimos cinco anos a ideia de que não estamos passando por uma crise no Ocidente. O que está acontecendo é uma série de mutações. Tanto que é justamente esse o título das conferências passadas. A preguiça é apenas o quinto tema abordado pelas palestras: já falamos sobre a condição humana, como é viver no mundo atual. Para ficar em mais dois exemplos, também falamos sobre a experiência do pensamento no mundo moderno e o papel das crenças na atualidade. E cada um dos ciclos dá origem a uma coleção de ensaios, que sempre é lançanda no início do ciclo seguinte.

E como a preguiça se encaixa nessas questões contemporâneas?
Sem preguiça não há pensamento. Porém, ela é muito mal vista no mundo atual, o que é uma total inversão dos valores que prevaleciam na Grécia Antiga, por exemplo. Lá, ela era tida como virtude, enquanto o trabalho era um vício. Sem contar que o erro mais grave dos teóricos sociais é o de que a técnica, a tecnologia, iria libertar o homem do trabalho. E, sabemos, nunca se trabalhou tanto quanto hoje.

Há a possibilidade do ciclo passar por Porto Alegre?
Sim, claro, os dois ciclos passados já passaram pela cidade. Mas é algo que estamos planejando para o final do ano, porque depende, além do patrocínio, da disponibilidade dos conferencistas. Gostaríamos bastante de levar o ciclo até aí, e também passar por outras cidades do sul.

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