A Voz Desarmada

Duda Hamilton é jornalista e atualmente é diretora da DFato Comunicação. Escreveu  o livro Energia para o Brasil - 10 Anos de Tractebel Energia, sobre a primeira empresa privada de geração de energia elétrica. Desenvolveu também trabalhos de pesquisa ao lado de Fernando Moraes - em Chatô, o Rei do Brasil - e Paulo Markun - em Anita Garibaldi, uma heroína brasileira. Também com Markun é autora de Muito Além de Um Sonho: a História da Unisul e  1961: que as Armas não Falem, obra cujo tema será abordado no curso 50 Anos da Legalidade, durante o Festival de Inverno deste ano.

CLL -  Como surgiu 1961: que as Armas não Falem?
Duda Hamilton - A ideia desse livro surgiu no final de 2000 e começou a ser desenvolvida em 2001, com a colaboração de 15 pesquisadores do RS, SC, GO, RJ, SP e outros dois estados do Nordeste. Queríamos passar uma visão nacional da Legalidade. Eu, como gaúcha, só conheço a versão daqui sobre o espisódio, mas aconteceram coisas importantes em outros estados também. Em Goiás, por exemplo, o governador ficou sitiado no Palácio e a censura no RJ fez com que vários jornais fossem publicados sem nada na capa.

CLL - Como  foi o trabalho com esses pesquisadores, estando eles tão longe?
Duda - A função deles era descobrir como a imprensa tratou o caso e dar uma visão de cada região para nós. Eles faziam uma varredura nos jornais de cada estado, entrevistavam pessoas chave e nos mandavam o material por sedex, em disquete (sim, ainda se usava disquete!).

CLL - O que mais te marcou ao longo da pesquisa?
Duda - Nasci em junho de 61, a Campanha da Legalidade aconteceu em agosto. Meu pai sempre contava que quando Jânio renunciou, deciciu levar a família para a estância, temendo que aquilo pudesse ser o início de uma guerra. Se tu perguntares para as pessoas com mais de 55 ou 60 anos todas lembram disso. Vale destacar, também, o alcance do rádio, a força da comunicação em uma época como aquela. Em três dias Brizola conseguiu interligar as rádios e mobilizar milhares de pessoas.

CLL - Tiveram alguma dificuldade ao longo do trabalho?
Duda - Ter que bater a história oral com a dos livros - muita coisa não batia. Mas o maior desafio foi conseguir ter acesso aos arquivos da Aeronáutica e da Marinha. Os documentos que conseguimos através de uma pesquisadora de Boston, por exemplo, que continha trocas de mensagens entre embaixadores, foi algo inédito no livro.

CLL - Podes destacar alguma impressão pessoal sobre o episódio?
Duda - Depois de terminar a pesquisa percebi que o golpe de 64 foi uma correção dos militares. Todos os erros que eles cometeram em 61, não se repetiram em 64. E como a esquerda seguiu um pouco para cada lado, o golpe funcionou.

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