Um irmão escolhido

Em meados dos anos 80, o trabalho de Caio Fernando Abreu ficou associado a outro artista gaúcho, o diretor teatral Luciano Alabarse. Juntos, os dois trabalharam nas peças Pode Ser Que Seja Só o Leiteiro Lá Fora, Reunião de Família (adaptação de um texto de Lya Luft) e Morangos Mofados.


Luciano, ao lado de Juarez Fonseca, vai participar da mesa Caio F.: 15 Anos Depois, dia 25 de julho, durante o 6º Festival de Inverno. Na entrevista abaixo, ele fala um pouco sobre sua relação com o escritor, a influência que o teatro teve em sua obra e a importância de sua figura na cena artística de Porto Alegre da época.

CLL - Quando você conheceu o Caio? Desde cedo ele se tornou um amigo próximo seu?

Luciano Alabarse
- Nós não ficamos amigos, nós sempre fomos, por isso não há uma data, uma ocasião precisa. Conheci o Caio desde sempre, e nossa afinidade foi imediata, total e cúmplice. Um irmão escolhido, sem dúvida.

CLL - Como se dava a colaboração de vocês dois no teatro? A contribuição dele ficava restrita ao texto ou ele também opinava nas questões do palco?
Luciano Alabarse - Caio era extremamente discreto, não interferia jamais na encenação. Me entregava os textos, me deixava ensaiar sossegado, ia na estreia, e depois fazia suas observações e comentários. Reunião de Família foi especial, porque alugamos uma casa em Torres e ficamos dois meses isolados, ele trabalhando muito, direto, no texto da Lya Luft. A recíproca era verdadeira. Eu não me metia em nada do seu texto, ganhava pronto, e o respeitava na íntegra. Uma colaboração profissional que me deixou mais maduro, muito especial mesmo.

CLL - A obra do Caio foi muito influenciada pelo teatro. Ele tinha alguns dramaturgos preferidos?
Luciano Alabarse - Caio gostava muito de teatro, mas sua praia principal era a literatura, não a dramaturgia. Isso não o impediu de escrever diretamente para o palco. Há muita teatralidade nos seus contos, assim não me espanta que esse material termine sendo mais encenado do que suas peças propriamente ditas. No mais, autores que ele sempre me falava, não necessariamente de teatro, eram Clarice Lispector, Ana Cristina Cesar, Hilda Hilst, Nelson Rodrigues.

CLL - Fora do teatro e da literatura, em que sentido a figura dele era importante para a cena artística de Porto Alegre?
Luciano Alabarse - Caio era jornalista, trabalhava em jornais daqui, escrevia muito e, nesse sentido, comentava o quadro da produção local e isso ajudou o nosso amadurecimento, sem dúvida. Fora isso, sua presença luminosa impregnava qualquer ambiente onde estivesse. Ele era divertido, sarcástico, inteligente, espirituoso. Uma pessoa assim, ligada às artes, certamente influencia o meio onde atua.

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