Entrevista - Roberto Schaan Ferreira

Roberto Schaan Ferreira, escritor vencedor do Prêmio Açorianos de Criação Literária 2011 com o livro Por que os ponchos são negros, concedeu uma entrevista pro Blog da Coordenação falando um pouco de sua carreira e de sua indicação ao Prêmio AGES - LIVRO DO ANO 2013, na categoria Narrativa Longa.

Por que os ponchos são negros (Editora da Cidade, 2012) foi lançado ano passado. É o primeiro romance do Roberto Schaan.


Confira a entrevista: 

CLL - Há dois anos atrás, numa entrevista para o Blog da Coordenação, tu afirmou que não se sentia ainda um escritor. Hoje, com o teu livro de estreia “Por que os ponchos são negros” agraciado com Prêmio Açorianos de Criação Literária 2011, alguma coisa mudou? Tu se sente, hoje, um escritor?

Roberto Schaan - Se eu bem me lembro, aquela entrevista foi antes mesmo da premiação do livro, e, sem dúvida, antes da publicação dele.  Hoje, publicado, o “Por que os ponchos são negros” é uma realidade física, o que ajuda bastante.  Além disso, continuo escrevendo, o que me faz sentir-me capaz disso.  Então, acho que avancei bastante no rumo de suportar a responsabilidade dessa condição.  E a repercussão do livro tem me dado um alento enorme nesse caminho.

 
  
CLL- O teu livro de estreia toca em temas muito caros à história brasileira: a ditadura militar, repreensão, prisões, mortes. Como foi criar uma história ficcional tendo como pano de fundo essa parte negra da história, como relacionar isso com a perda de identidade forçada do personagem principal?

Roberto Schaan - A ditadura, a repressão, o medo fazem com que tudo se deforme de alguma maneira.  Num regime desses todos acabamos nos tornando um pouco falsos.  O personagem do livro é um emblema vigoroso do que pode conduzir a necessidade de adaptação em tal circunstância.  A dúvida que fica é se a felicidade ou a realização plena são possíveis diante disso.  A história, me parece, decorre dessas determinantes: a necessidade de adaptação (clandestinidade) contraposta à busca meio esquiva da felicidade.
 


CLL - Na mesma entrevista, de dois anos atrás, tu ressaltou que o romance tinha certa tendência de voltar à animalidade, quando por forças maiores somos incumbidos a viver sob situações extremas. Esse é um dos pontos para ler a obra?

Roberto Schaan - Esse é um ponto que me é particularmente fascinante.  Há um certo exercício da civilização de negar a animalidade humana.  Mas ela está aí e é fundadora e essencial.  Talvez no caso do personagem ela tenha sido vital, pois em algum momento há a morte e a negação da sociabilidade.  Há no livro um soneto que contém certo indicativo de uma intimidade com a selva, ou uma identidade primitiva.  Em alguns sonetos (inéditos) chamados Os Leões, trabalho essa virtude animal (que no homem está inibida ou atrofiada) de se bastar, de não depender dos outros para a sobrevivência, de se concentrar no que é elementar (Feito os leões, às vezes cheiro água,  /  ou cheiro caça, ou cio, ou inimigo,  /  e ao impulso me lanço, convertido  /  totalmente ao amor, à fome, à espada.)  Acho que isso está no livro.
 


CLL - Qual a importância da valorização e do reconhecimento de ser finalista na categoria Narrativa Longa do Prêmio AGES – Livro do ano – 2013, com o teu livro de estreia e já premiado com o Açorianos de Criação Literária?

Roberto Schaan - Quando a história foi classificada entre as três finalistas do Açorianos de Criação Literária, eu já me sentira premiado.  A conquista e a publicação são para mim, ainda hoje, uma alegria diária.  Especialmente pela beleza que tomou a sua realização física – a capa, a edição, o livro.  Ser finalista do prêmio AGES, tendo concorrido, agora, com livros publicados é uma outra graça que essa escritura me alcança, com a qual passei a conviver nos últimos dias, com desfrute e orgulho.


 
CLL  Sobre novos projetos: está escrevendo um outro livro, tem projetos para o futuro?

Roberto Schaan - Depois dos “Ponchos” escrevi um conto e iniciei e estou escrevendo um romance (que tem se alongado).  No curso desse romance escrevi mais dois contos, além de alguns poemas.  Além disso, tenho escrito crônicas mensais que são publicadas no O Sul (espaço da Associação dos Juízes Federais do Rio G. do Sul).  Espero ter mais um livro para publicar em um ano, ano e meio no máximo.


O livro está disponível no acervo da Biblioteca Municipal Josué Guimarães

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