A poesia na Feira do Livro

No meio da semana passada, mais precisamente no excêntrico 31 de outubro, tivemos o Dia da Poesia, na 58ª Feira do Livro de Porto Alegre. Lançamentos, saraus e mesas-redondas giraram em torno do tema poético em questão e, sobre ele, geraram mil e uma interpretações, performances (típico da poesia) e as mais diversas (e profundas) reflexões.
  
A poesia fora dos livros
com os poetas Diego Grando e Ronald Augusto e a poeta Maria Cecília Brandi
 

Falando sobre como a poesia se manifesta em diferentes meios distintos do livro, o poeta gaúcho Ronald Augusto iniciou o debate provocando a reflexão sobre a validade desses meios alternativos como suporte (ou não) - como veiculador (ou não) - da poesia. E, na mesma onda, o poeta seguiu inquieto: enquanto algumas mídias, como as redes sociais, parecem facilitar o encontro do leitor com a poesia, elas aproximariam o leitor não da poesia, mas do poeta. Assim essa mídia, segundo Ronald, baseada no contato social, acabaria se tornando corruptora da relação poesia-leitor - uma pedra no caminho da comunicação poética.
" Eu prefiro que os leitores gostem da minha poesia do que sejam meus amigos. Sempre brinco: eu quero distância do leitor. Não quero proximidade com o leitor. Eu nunca tive proximidade com o Manuel Bandeira!", diz Ronald.
 A poeta carioca Maria Cecília Brandi, no embalo das colocações anteriores, destacou a importância "relativa" dessas mídias fora do livro.  Para ela, existem poemas apropriados ao transporte para outro tipo de forma, assim como existem os que se reservam à introspecção (necessária e hermética) do livro.
"Alguns funcionam bem dessa maneira. Você ouve no rádio, ou na TV, ou em um sarau, mas, para outros, acho que o livro é o melhor status onde eles possam estar - onde o leitor vai poder aproveitá-los de uma forma mais completa", comenta a poeta.

Como o assunto era a poesia fora dos livros, o poeta Diego Grando não pensou duas vezes antes de ler o seu poema impresso em balão. Disse ele que já decorou o poema e nem conseguiria ler no balão vazio. Mas a pose é o que conta.

Com um balão na mão, Diego Grando concordava. Se dizendo leitor clichê de poesia - aquele que se tranca no quarto e lê o poema no mais profundo silêncio -, o poeta brincou que só não lê no escuro porque não dá. Por enquanto. Apesar disso, ele trouxe alguns pontos novos para a dicussão. Um deles foi a lembrança de que a posia fora do livro não é novidade - é um retorno. A oralidade, o "falar" o poema surgiu uns bons séculos antes da concepção de obra material. E, ainda sobre a provocação inicial do Ronald - sobre a aproximação da relação poeta-leitor-, Diego falou sobre seu gosto especial por leituras (áudios) de poetas como Manuel Bandeira e Apollinaire. E essa aproximação, diz, ele não pretende perder.

A conversa se estendeu ainda por um bom tempo e pode ser conferida, na íntegra, aqui no podcast da Radio Elétrica.


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