Silvestrin, Secchin, a poesia e seu leitor
Fernando Ramos (organizador), Ricardo Silvestrin e Antonio Carlos Secchin na 5ª FestiPoa Literária |
não quero mais de um poeta
que a sua letra
palavra presa na página
borboleta
nem quero saber da sua vida
da verdade que nunca foi dita
mesmo por ele
que tudo que viveu duvida
não revirem a sua cova
o seu arquivo
é no seu livro que o poeta está enterrado
vivo.
Secchin, depois de apresentar sua trajetória na UFRJ, desde sua vida de leitor leigo até seus questionamentos sobre como falar sobre e entender a poesia no magistério (segundo ele, o curso é para fazer com que o aluno deixe de tratar a poesia como "Vossa Excelência" e possa chamá-la de "você" - o importante é arriscar-se diante do discurso poético), passou a analisar o caráter individualizado da poesia. De acordo com Secchin, integrante da Academia Brasileira de Letras desde 2004, poeta, ensaísta, crítico e professor, a poesia é "o reino da instabilidade total", um produto complexo da mente do poeta (que está sempre oscilando em estilo e qualidade - "até Drummond tem altos e baixos"), que age com sua singularidade utilizando-se de um repertório coletivo. A crítica poética, portanto, é o choque entre a singularidade do crítico e a singularidade do poema, sendo que as duas singularidades estão abastecidas pelo coletivo. Ainda assim, enquanto crítico, Secchin procura, de certa forma, esquecer tudo que já foi dito ou escrito quanto ao poema. "A literatura deve ser produtora de sentido novo", argumenta, defendendo a possibilidade da crítica também ser criadora, entrando no texto e transformando-o em um segundo texto, sofrendo a interferência benéfica de multiplicar sentidos.
Silvestrin reforçou a ideia da individualidade de cada poema. "O próximo é sempre o próximo", afirmou o poeta, compositor e diretor do Instituto Estadual do Livro (IEL), comentando que cada texto pede ao leitor que ele reaprenda a ler - reforçando a ideia com o poema leitor ulisses, de Ronald Augusto, que tem o verso:
ninguém
está de posse do
pós
está de posse do
pós
No decorrer da conversa, outros tópicos foram discutidos, como os nichos dentro da produção poética (a necessidade do poeta de seguir movimentos, encontrar uma verdade máxima dentro de um estilo), o ensino da poesia na Universidade durante a época da ditadura (e a rejeição ao moderno), o estigma de certos períodos na poesia nacional (o Parnasianismo como algo negativo dentro do legado poético), o poeta e sua consciência sobre a própria linguagem e o significado de sua produção e a conferência de sentido na produção literária pelo própria leitor (que, não raramente, é melhor leitor do que o próprio poeta).
Ao final do evento, Secchin leu trechos de seu livro e declamou dois de seus poemas. "Escrevo bem menos do que gostaria", disse, enquanto traçava paralelos entre sua formação e ligação ao universo acadêmico e sua falta de ingenuidade ao escrever (que não seria um ponto positivo para sua produção). A seguir, Silvestrin declamou também o poema que consta no início deste post. E, depois deste espaço dedicado à produção poética nacional de um modo geral, a noite se concentrou em um poeta somente, e em especial à sua obra de maior renome: Eu (estamos falando de Augusto dos Anjos). Mas essa história a gente conta no próximo post...
Por enquanto, o leitor pode se ocupar com a declamação de Secchin de seu poema Sagitário:
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