Produção literária brasileira em debate

Assuntos como o mercado editorial, a retratação na imprensa e o olhar acadêmico sobre a literatura brasileira contemporânea foram discutidos pelos críticos literários e curadores cariocas Beatriz Resende e Ítalo Moriconi, com a mediação do escritor Paulo Scott, na segunda noite da FestiPoa Literária.
Paulo Scott, Ítalo Moriconi, Beatriz Resende e o organizador Fernando Ramos (em pé) na abertura do evento

Após a apresentação dos dois convidados e suas trajetórias no campo literário, o papo se direcionou para o poder da academia e das editoras de "identificar a qualidade" dos escritores e legitimar a nova produção literária brasileira. "A tendência da academia é um certo 'acomodar-se'", confessou Beatriz. "Há uma certa censura, desconfiança, ao arrojo do jovem. É arriscado interessar-se pela novidade". 

Sobre a atividade de curadoria, Ítalo, poeta e crítico responsável pelas antologias Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século e Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século, reforçou a ideia: "A curadoria do contemporâneo é sempre um risco, é uma aposta".

Paulo Scott lê texto de Ítalo Moriconi na reunião
Em seguida, a visibilidade da literatura atual entrou em pauta. As editoras percebem melhor a literatura contemporânea do que a academia? Ítalo trouxe à discussão o fato de que as editoras não têm mais tempo para releituras, contextualizando: "A geração de escritores da década de 70 está esquecida."

Beatriz falou sobre como as ciências humanas estão em segundo plano na sociedade tecnológica de hoje em dia,  sendo a literatura uma pequena parcela delas, que quase não recebe incentivo: "As humanidades estão deixadas de lado, substituídas pela tecnologia".

Sobre a cena literária nacional, Beatriz criticou a espetacularização da vida literária. "O literário no Brasil virou um jogo de rapidez, de celebridades", afirmou. "É como se a vida literária fosse ela própria a literatura".

Ítalo comentou que "às vezes o nome do autor parece ser maior que o texto". A Flip (Feira Literária Internacional de Paraty) foi o principal alvo dessas críticas.

"Na Flip, a literatura brasileira é uma vírgula", comenta Beatriz Resende
No final, com espaço aberto para perguntas do público, Beatriz e Ítalo deram seus pareceres quanto à relação da literatura atual com a literatura consagrada e a questão da oralidade refletida na produção contemporânea.

Beatriz assumiu sua posição com a frase "Não existe mais um olhar teórico da literatura para a literatura. A literatura de hoje tem uma relação maior com as artes em geral e com a tecnologia".

Ítalo argumentou que existem dois tipos de escritor atualmente: "há o que é multidisciplinar e existe aquele que investe no literário enquanto literário".

Sobre a oralidade na literatura, Beatriz comentou que "a oralidade está em baixa", enquanto Paulo Scott confessou ter a impressão de que o caráter oral da literatura é explorado no Rio Grande do Sul. Ítalo julgou que atualmente "há tentativas de incorporar a oralidade na literatura sem fazer um simulacro imperfeito".

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