Retrospectiva: 1997

Vencedor na categoria poesia: Os cantares da semente, de Maria Carpi

Foi aos 51 anos que a advogada Maria Carpi efetivou seu lado poeta, lançando seu primeiro livro Nos Gerais da Dor (1990). Nessa obra já estão presentes características suas como inclinações reflexivas, o gosto pelos elementos naturais e o desejo de investigar as capacidades subjetivas da língua, semelhanças que trafegam em diversos escritos seus.

Em Os Cantares da Semente (1996), quarto livro da poeta, sua sensibilidade continua cada vez mais aguçada. A obra, dividida em VI cantos, é composta de poemas longos e curtos, asseguradores de ritmo e melodia. Maria tende a dedicar-se a erguer diálogos com seus leitores, em um tom de conversa sustentado por uma linguagem fresca e coloquial, demonstrando como a ligação com o outro é importante. A semente é a figura principal do livro. A partir desse signo de vida que Maria sustenta seus versos. O escritor Luiz Antônio Assis Brasil faz uma boa leitura sobre essa escolha. “Semente em nós como o abstrato da Humanidade, que nos irmana todos e nos faz andarilhos, sujeito às quedas. Mas sempre a semente a aparar-nos”, reflete.

Assim como a natureza necessita da existência da coisa semente, o poema também. É esse catalisador que Maria investiga, ao mesmo tempo em que procura provas da poesia na vida e vice-versa. No poema que selecionamos, que faz parte da obra aqui comentada, encontramos um fator que se faz bastante presente no livro. A humanização da natureza e o uso de especificidades do mundo animal, vegetal e mineral para descrever um sentir humano.

SEMENTE EM MIM

Um bafo de sazão fugada,
de madureza deixada
e esmo, põe temperança
comigo, em igualdade
de pele, porque olhos
não me viram, nem mão

me colheram. As uvas
onde o tempo espuma.

Segundo o elogio de Thiago de Mello, poeta amazonense, “Todas as suas palavras unem-se umas as outras por atração mágica inexorável. Todas têm boca, densa música”. Maria é dona de precisão na escolha de seus elementos poéticos. Incessante em sua escrita, em 2011 lançou mais um livro, chamado A Chama Azul.

Mais sobre a autora:

Maria Carpi (Guaporé, 1939) é autora de mais de dez obras. Reside em Porto Alegre (RS). Possui quatro filhos, entre eles, o também poeta Fabrício Carpinejar. Entre outros, também lançou as obras Desiderium Desideravi (1991), Vidência e acaso (1992), A migalha e a fome (2000) e as antologias pessoais Pequena Antologia (1992) e Caderno das águas.

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