Delicadamente Feio

Livro de estréia de Ricardo Silveira é um dos três finalistas do Prêmio Açorianos de Literatura 2011 na categoria Conto.

Gotthold Ephraim Lessing, poeta e filósofo, defendia a ideia de que o Belo seria o princípio regulador de todas as artes. Apesar de não parecer (vocês saberão por quê), Ricardo Silveira, autor de Delicadamente Feio, não contradiz a observação do teórico alemão. Através de seus doze contos reunidos pela Editora Dublinense, narra o "quase comum" ignorado pelas pessoas e reflete, de forma delicada, a construção suja do cotidiano.

Folheando as páginas do livro de Silveira, encontramos, no conto Qualquer coisa, o seguinte trecho:
Abri completamente o pacote. O conteúdo era um pequeno pedaço disforme com a aparência de queijo deteriorado, mas não era queijo. As pessoas em torno da praça impacientaram-se, mas eu já não os escutava. Notei que minha boca estava encharcada de saliva e o odor não me incomodava mais. Afundei meu dedo indicador na peça de consistência flácida e viscosa. Experimentei uma boa quantidade. Não foi necessário usar meus dentes. Dissolveu-se como hóstia no céu da boca (...)
O autor faz do Grotesco o Belo e convida uma diversidade de personagens para pintar esse processo. De um anão musculoso que dirige uma grande caminhonete a uma menina feia que emebebeda rapazes para transar, surgem diversas figuras estranhamente comuns que temperam o dia a dia da mais insana e rotineira feiura do seu mundo.

Assim como o outro finalista da sua categoria, Nelson Rego, Ricardo Silveira  frequenta - desde 2005 - as oficinas do escritor Charles Kiefer. Nascido  em  Porto  Alegre, é médico e possui mestrado  em  psiquiatria.

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