Entrevista - Marco de Menezes



Vencedor das categorias Livro do Ano e Poesia na premiação do ano passado, o escritor Marco de Menezes está novamente entre os finalistas do Prêmio Açorianos de Literatura 2011 com a obra Ode Paranoide, na categoria Poesia. Depois de apresentarmos o livro aqui no blog, conversamos um pouco com o autor sobre o seu processo de produção:


Já trabalhaste como escritor em conjunto com música, fotografia, ilustração e cinema. Enquanto autor, preferes aplicar tuas palavras em produtos mais tradicionais, como livros próprios e participações em antologias de poesia, ou em produções nas quais diferentes campos artísticos convergem, como letrista para composições musicais?

Acho que nas duas possibilidades: o objeto livro é insubstituível enquanto veículo, meu envolvimento com ele é intenso o suficiente para me manter preso à sua sedução polissensorial. No entanto, as interfaces possíveis (e de resto ainda plenamente abertas) –como a música, os quadrinhos, a mera leitura de poemas, o uso de imagens, etc – são necessárias para a aeração e circulação do texto poético. Penso que devamos encarar essas experiências díspares, sem a preocupação precípua de acertar.

Quanto ao Ode Paranoide: criaste a poesia já tendo em mente uma complementação gráfica como a de Marina Polidoro ou as palavras antecederam a estruturação gráfica do livro? Em que medida as imagens evocadas nos teus poemas influenciaram as cores e os desenhos presentes no livro?

Muitos poemas foram escritos antes (sem que ideia alguma me passasse pela cabeça com respeito à forma com que seriam ou não publicados), os passei para Marina, e ela teve grande liberdade em povoar as ilustrações com os elementos recorrentes ou paroxísticos que surgiam no texto. Outros poemas – por exemplo, Groenlândia – os fiz já tendo em mente os trabalhos que Marina enviava de tempo em tempos. De modo que o que há de diálogo entre texto e imagem surgiu desta via de mão dupla.


Enquanto leitor, absorvi uma natureza contrastante dentro da poesia de Ode Paranoide. As tuas palavras possuem uma natureza bela, de contemplação, mas, ao mesmo tempo, em diversos casos, essa beleza tem algo de memória, quase confortável, e ainda assim transmite uma espécie de desalento ou desconforto quanto à atualidade. Isso é uma impressão leiga ou condiz, em determinado ponto, com a mensagem de Ode Paranoide?
Acho que colaboraram na composição de Ode Paranoide certo inconformismo, certa liberdade em agredir, aspereza e desencanto, imagens salobres, alguma rouquidão, mas também o chamado da memória disfarçada de saudade, nostalgia, os mesmos versos de sempre querendo ser reiteradamente retomados. Mas não há uma deliberada ideia de mensagem – talvez nem exista mesmo isso a que chamam mensagem: é algo que me parece estar interditado para o poeta, o suspeito habitual.

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