Bailarina sem breu

Mariana Bertolucci é mais conhecida por seus textos na área de comportamento (por muito tempo editou a coluna social de Zero Hora). Mas Bailarina sem breu, indicado ao Prêmio Açorianos de Literatura na categoria Crônica, mostra que não é só esse o assunto que ela gosta de tratar.

Exemplificando: Mariana fala aqui sobre o cotidiano e o contemporâneo, matéria fundamental das melhores crônicas. Cláudia Tajes, que assina a contracapa do livro, diz que ela tem a habilidade de "humanizar um tema que poderia ser distante, mas que acaba interessante para todos". 

Como no trecho que selecionamos abaixo, confira:
O problema do pessoal do século 20 é que a praticidade e a pressa estimulam, provocam uma intimidade frágil e falsa. Não são cartas rabiscadas, passadas a limpo e dezenas de vezes relidas até que a razão apazigue o que jorra sem sentido no papel. Sem tom, medo ou compromisso com o que se sente e o que se é na vida real, Em todo tipo de relacionamento.

Ficamos no meio do caminho de quase tudo. Que a tecnologia siga uma aliada invencível dos direitos humanos. Já que quase nada mais escapa das câmeras e dos celulares em qualquer lugar do mundo. Mas, sem um tantinho de poesia, viver nestes anos 2000 pode ser tão arriscado e solitário como fazer sexo com uma única pessoa a vida inteira e pela primeira vez na noite do casamento. Como alguns de nossos pais, que aprenderam a amar apenas com os olhos, as mãos ansiosas e os sonhos em comum daquele tempo em que a gente nem sonhava em existir.

O que não deixa de ser instigante. Quase belo dentro de seu absurdo.

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