Felicidade sentida

"A felicidade é o tema do momento. E um tema da moda. De desejo universal a objeto fácil, a felicidade não é o que parece ser. Ela tem uma história bem mais complexa relacionada à filosofia e ao ramo da filosofia prática que chamamos de 'ética'."

O 6° Festival de Inverno trará a Porto Alegre a escritora e filósofa Marcia Tiburi com o curso Felicidade?, nos dias 25, 26, 27 e 28 de julho na Sala Álvaro Moreyra (av. Erico Verissimo, 307), às 18h30.


Em entrevista à CLL, Marcia falou sobre as diferentes formas de compreender a felicidade baseada na filosofia, diretamente ligada ao conceito de ética.


CLL - Sempre entendemos o conceito de felicidade da mesma forma?

Marcia Tiburi - Não. A felicidade tem uma história. E ela está ligada à história da filosofia. Pelos registros que temos na história da filosofia, a felicidade está ligada à discussão sobre a possibilidade de uma vida boa, justa e digna que define a área de investigação que há tempos se chama ética, e que pode ser traduzida por "sabedoria prática". A idéia de felicidade sempre foi tema de discussão dos antigos aos modernos. Não há historicamente unanimidade sobre o que possa ser a felicidade, mas certamente as discussões no campo da filosofia se aproximam mais do que ela possa ser do que as verdades dadas na propaganda geral da felicidade que vemos hoje. A dúvida filosófica é mais "feliz" do que a certeza da propaganda.

CLL - Que felicidade é essa que tanto buscamos hoje?

Marcia - A característica fundamental de nosso tempo é a "resposta pronta". Neste sentido, nosso tempo é mais teólogico do que filosófico. E a teologia do nosso tempo é a publicidade. No nosso curso trabalharemos com a diferença entre Felicidade Filosófica e Felicidade Publicitária. A Felicidade Filosófica diz respeito à construção humana que considera o indivíduo como um ser livre e emancipado (ou seja, a relação do indivíduo com o ser genérico que é a humanidade) e não à imposição de "ser feliz" que vemos no mundo consumista e que constitui um aprisionamento naquilo que podemos chamar de fantasmagoria da felicidade.

CLL - Na tua opinião, a felicidade pode ser um estado permanente ou ela é apenas momentânea?

Marcia - Esta sua pergunta nos mostra como é importante discutir o sentido da felicidade hoje, pois não se trata de decidir se ela é um estado permanente ou efêmero. Essa é uma redução que normalmente se faz no contexto do senso comum. É no âmbito do senso comum que a felicidade é banalizada perdendo, assim, seu sentido ético e político. A questão da felicidade é, "felizmente", mais complexa. O nosso curso tem como objetivo devolver a questão ao seu melhor lugar de debate: o campo da filosofia.

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