Sobre Liberdade



Curioso em saber mais sobre Liberdade, livro de Jonathan Franzen que será apresentado no próximo encontro do seminário Livros que Abalaram o Mundo? Leia os comentários do palestrante Flávio Moura sobre a pergunta feita pelo mediador deste sábado, Felipe Pimentel.


CLL - Todos os comentários sobre o livro Liberdade, de Jonathan Franzen, ainda que o autor não o queira, destacam a capacidade da obra de "apresentar nossa época". Que "nossa época" é essa que Franzen exibe?

Flávio Moura - O barulho em torno do Franzen vem em parte da esperança de que ele seja o herdeiro de uma tradição, o autor capaz de assumir o bastão do “Grande Romance Americano” para a nova geração. E, tendo em vista a centralidade da experiência americana para o restante do mundo, os pontos em que ele toca assumem o estatuto ampliado de “nossa época”.

E o que nesse livro permite situá-lo como herdeiro dessa tradição? São várias coisas. São 700 páginas que procuram tocar os nervos das questões cruciais da experiência americana dos últimos 30 anos. Os governos Reagan, Clinton e Bush, o terrorismo, a questão palestina, o crescimento econômico desgovernado, o aquecimento global, Nova York versus EUA profundo, o conflito entre geração dos anos 80 e a dos anos 2000, a música mainstream versus underground e a mercantilização da cultura, a explosão do mercado financeiro, o sistema de saúde, o politicamente correto das universidades, as fraturas na célula familiar. Tudo isso aparece nesse livro e aponta em direções por vezes surpreendentes.

Claro que simplesmente abordar diretamente cada uma dessas questões fica maçante e artificial – e seria melhor fazer vários ensaios do que uma obra de ficção. Onde entra a habilidade do escritor é em fazer cada um desses temas surgir de forma natural, como conseqüência imediata de uma história que é preciso contar. E, mais que tudo, fazer essa história ficar interessante e atraente, criar trama, paixões, enredo, um fio, enfim, a partir do qual tudo se amarra. E isso ele faz muito bem, o livro é um “page turner”, como dizem os americanos, desses que a gente não quer nunca largar.

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