O índio de José de Alencar

Em 1943, o presidente Getúlio Vargas instituiu, através do decreto-lei 5540, o dia 19 de abril como o Dia do Índio. A data remonta ao Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, realizado no México, em 1940, que inicialmente foi boicotado pelos líderes indígenas, temerosos com o comportamento dos “homens brancos”, vindo a aderir somente alguns dias depois, em 19 de abril.

Na literatura, relembramos hoje o índio como personagem do escritor cearense José de Alencar. No romance indianista de Alencar, o indígena é visto em três etapas diferentes: em Ubirajara, antes de ter contato com o branco; em Iracema, um branco convivendo no meio indígena; em O Guarani, o índio no cotidiano do homem branco . Nos romances, a figura do índio remete ao “bom selvagem” de Rousseau, dotado de sentimentos nobres e do comportamento civilizado do europeu.

Iracema (anagrama de América), publicado em 1865, é considerada a obra mais importante de Alencar. Escrito em prosa poética, o livro conta a história da índia Iracema que se apaixona por um europeu, Martim Soares Moreno, personagem histórico real, que mistura aspectos mitológicos da cultura indígena com a colonização do Brasil. Dessa união nasceu Moacir, o "filho da dor".

Trecho:

O grande chefe pitiguara levou além o formidável tacape. Renhiu-se o combate entre Irapuã e Martim. A espada do cristão batendo na clava do selvagem, fez-se em pedaços. O chefe tabajara avançou contra o peito inerme do adversário.

Iracema silvou como a boicininga; e arrojou-se contra a fúria do guerreiro tabajara. A arma rígida tremeu na destra possante do chefe e o braço caiu-lhe desfalecido.

Soava a pocema da vitória. Os guerreiros pitiguaras conduzidos por Jacaúna e Poti varriam a floresta. Fugindo, os tabajaras arrebataram seu chefe ao ódio da filha de Araquém que o podia abater, como a jandaia abate o prócero coqueiro roendo-lhe o cerne.

Os olhos de Iracema estendidos pela floresta viram o chão juncado de cadáveres de seus irmãos; e longe o bando dos guerreiros tabajaras que fugia em nuvem negra de pó. Aquele sangue que enrubescia a terra, era o mesmo sangue brioso que lhe ardia nas faces de vergonha.

O pranto orvalhou seu lindo semblante.

Martim afastou-se para não envergonhar a tristeza de Iracema.

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