Literatura em Construção

Obras inéditas é o assunto da nova seção do blog da CLL, Literatura em Construção, que conversará com escritores sobre seus mais recentes trabalhos e projetos.

O primeiro entrevistado é o jornalista e escritor Airton Ortiz, que está finalizando Jerusalém. Motivado pela paixão por esportes radicais, Ortiz publicou relatos que narram experiências em lugares fora do roteiro turístico convencional, como Índia, Alasca, Tibete e África.

Ortiz em frente ao túmulo da Virgem Maria, no Monte das Oliveiras, em Jerusalém

O livro mais recente é Havana (Record, 240 ps., R$ 32,90), que abre a série Expedições Urbanas, em que o autor deixa de lado as paisagens exóticas e se aventura por grandes cidades . A viagem à Jerusalém deu origem ao segundo livro da coleção, que será lançado na Feira do Livro de Porto Alegre, no dia 03 de novembro.

CLL - O que há de novo em Jerusalém?
Airton Ortiz - Visitei lugares importantes para a cultura ocidental, com os quais as pessoas se identificam, se interessam e querem saber mais. A Basílica do Santo Sepulcro, por exemplo, é um dos cenários mais conhecidos de Jerusalém. Mas não é preciso lembrar que neste lugar Jesus foi crucificado, sepultado e ressuscitou. Isso todos já sabem. Pretendo narrar o que se passou naquela construção em diferentes épocas: a invasão dos muçulmanos, a destruição e reconstrução da igreja, as Cruzadas.

CLL – Com o que você foi surpreendido?
Ortiz – Fiz uma peregrinação cultural. Busquei compreender as tantas diferenças de uma cidade tão rica culturalmente em consequência da diversidade religiosa. Não fui em busca do sagrado. Procurei entender a cultura por trás da religião e como ela influencia o cotidiano das pessoas.

Abaixo Santa Terra, a primeira crônica de Jerusalém.

“Onde eu estava mesmo na última vez que nos encontramos?

Ah, sim, em Havana! Que saudades do Cohiba, da cubra-libre, da rumba e das filhas de oxum passeando no Malecón nos finais-de-tarde. Quando elas desfilavam entre a praia e o sol provocavam eclipses na areia. Belos dias, aquele verão. Alguns de vocês me escreveram dizendo que andei exagerando por lá.

Exagero!

Está certo, até pode ser: Havana é a cidade das tentações. E são tantas, as tentações. Não há como resistir. Então, para buscar um pouco de paz, nada melhor do que dar um pulo até Jerusalém. Melhor: um salto. Um salto da profana Havana dos Castros à sagrada Jerusalém dos castos. Jerusalém endeusada, onde vivem todos os deuses.

Na Terra Santa também há tentações, Jesus que o diga. Mas aqui dá para resistir. Ele, pelo menos, resistiu. Quarenta dias e quarenta noites. Oh, pai! E eu, resistirei? Há uma certa distância entre o nazareno e este gaúcho, mas não custa tentar.

Quem sabe não consigo algo melhor em vez de ficar me lamentando? O deus dos judeus ainda mora por aqui, ali no outro lado do Muro. Que tal uma mãozinha? Está bem: eu dou a mão.

Maomé foi ao encontro de Alá a partir de Jerusalém. Com tantas divindades pelas esquinas a cidade é o local ideal para este pecador se redimir.

E como a única maneira de saber se conseguiremos resistir a uma tentação é se expondo a ela, então vamos lá.

Venha! Não tenha medo.

Estas crônicas mostram alguns dos momentos interessantes que passei em Jerusalém nas cinco vezes em que estive na cidade, as duas últimas como guia de um grupo de turistas brasileiros.”


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